terça-feira, 12 de março de 2013

E você, me aceita?

Meu bom humor é de graça. Aceite. A cartilha do riso me ensina a enganar os olhos, se vejo a tristeza distraída pelos cantos, corto a volta. Aguente meu alto índice de alegria, minha poção mágica pro desespero. Aperte nas mãos meus caprichos e construa pequenos detalhes. Moro no acaso, o simples é minha corrente de esperança. Não aceito papel de má. E boazinha é um apelido quase feio. Fico no meio termo. A virtude não me atrapalha e o improvável sempre me aceita.Às vezes escorrego, mesmo equilibrada na minha estante de conceitos. Aprenda a me ler. Apenas leia. Gosto de me esconder nas entrelinhas, de escapar nas vírgulas, de me perder nos pontos. Eu me faço, refaço, pinto e bordo do jeito estranho e poeta que sei ser. Carrego comigo o mundo, as músicas, as lembranças que, teimosa, não sei me desfazer e sorrio com chuva nos olhos, porque sempre tem algo pra se esconder. Maquiagem de graça essa, discreta como só o beija-flor sabe ser. Vou plantando o riso nas esquinas, colhendo o amor estilhaçado e reconstruindo vidas, principalmente a minha.
Tem sempre algo que falta, tem sempre uma saudade infinita, tem sempre um amor antigo, um amor morrido e um amor novinho pra ser inventado. E se é assim, invento. E reinvento todos dias, botando mais açúcar quando dá vontade ou colorindo da cor que bem desejar. Mas tem que ser doce, aceite. Preciso da doçura caminhando lado a lado, do sabor do mel nos lábios, porque já estou calejada de amargura e acidez. Principalmente das palavras, que vem com rostinho inocente, mas te derrubam e te destroem por dentro. Não, não, não. Tem que ser doce, pra aguentar o peso de todas as mentiras esfoladas que são continuamente arremessadas sobre o nosso dia a dia.
Então, por favor, aceite. A embalagem que carrego é transparente. Meus olhos possuem a doçura como lacre. Vejo o que desejo. Fecho os olhos quando perco o tino. Porque não possuo o poder de não errar. Gosto de ser humana. Meus defeitos são gritantes e minha boca costuma cuspir silêncios rodeados de solidão. Não, eu não costumo ser sozinha. Eu ando rodeada de gente. É que ás vezes minha multidão é vazia. Não ria, eu crio personagens. É minha forma de lidar com esse teatro que está montado no peito. Eu sou artista sem platéia. Criança de palavras tortas. Menina que aprendeu a não julgar. Mulher que não se esconde quando quer gritar.
E você, me aceita?

segunda-feira, 11 de março de 2013

Não preciso

Nem sempre levanto de bom humor, com uma pele linda e reluzente. Nem sempre consigo fornecer sorrisos e bons fluídos ao meu próximo na proporção que deveria.
A vida ás vezes é meio malandra, incerta e nem um pouco cômoda. Cansei de querer acertar o passo a todo custo. Caminhar em linha reta nunca foi meu ponto forte, até na escrita cambaleio, me dou ao luxo de escorregar, de desafiar as letras com toda a minha angústia de errante e aprendiz de boa moça.
Todos os dias me esforço, faço votos que eu consiga absorver apenas as lindezas que me rodeiam, peço a fada madrinha que não me iluda com falsas poções de otimismo, pinto as divergências com ironia e danço pra não me sentir uma múmia.
Claro que também acerto, sei me fingir de estátua quando o mundo parece rodopiar. Minha maior qualidade é carregar a verdade nos ombros e algum brilho no olhar. Choro com facilidade, mas garanto que tristeza não me cabe.
Sou perita em assassinar maus pensamentos e corto volta de gente que usa da maldade pra subir na vida. Minhas costas não possuem largueza, nem grades contra o mal, muito menos holofotes que indiquem alguma fortaleza, mas meu riso miúdo se alastra conforme avanço diante de qualquer mal que me açoite, ou qualquer sujeira terrena.
Nunca fui um anjo de bondade, mas sei o endereço que minha alma realmente procura. Simplicidade, minha gente, quero encontrar nela minha arma e meu selo de maturidade diante da fé desacreditada. E acredito piamente em cada passo que se distancia da nebulosidade que aflige os olhos.
Não preciso ser boa o bastante pra ganhar o mundo, mas preciso ser humana além dos limites pra alcançar outras esperanças.

[Ju Fuzetto]

terça-feira, 5 de março de 2013

Aquilo que inventei

Quer saber um segredo? As pessoas mentem. Nem todo mundo viveu um amor. E não é todo mundo, desculpa a franqueza, que vai ter a chance, a sorte, a ousadia de viver um sentimento tão puro como esse. Eu queria de uma forma meio desesperada que fosse amor. E dizia que era. Até sentia que era. Sentia porque eu queria, muito, sentir. Mas, olha, não era. Não era, não foi. A gente não foi tudo aquilo, não. Aquilo era uma paixão forte, uma coisa que me tocou, me mexeu, me revirou, chegou sem fazer barulho, pé por pé e depois fez um estardalhaço grande aqui no meu peito, na minha vida, nos meus dias, nas minhas noites. Aquilo quase me destruiu por dentro e por fora. Acho que você não entende direito o que quero dizer, mas quem já viveu uma paixão violenta e arrebatadora sabe do que estou falando. Dói, ai, como dói. E arrebenta por dentro. Arrebenta feito balão de festa. Estoura, entende? Estoura e não sobra nada, não sobra um pedacinho pra contar história.
E o que é mais louco é saber que me apaixonei por alguém que não existe. Eu te inventei. O modo que te via,  foi inventado por mim. E o que você é de verdade, não é pra mim, é pouco...

Quero um homem que, no mínimo, tenha um pau maior que o meu. Não o membro, mas nas atitudes. 


Pensando hoje, sem fortes emoções, me liguei que não fui eu que te fiz sentir um merda (como vc insistia em afirmar) , te fiz enxergar isso, mesmo sem querer. 

Muito bom perceber isso. Estou livre!

segunda-feira, 4 de março de 2013

Porque sou decente demais pra você.


Você guardará meu nome atrás de algum sentimento mascarado em seu coração, abrirá o bilhete que te deixei para passar na feira só para encontrar meus dedos, respirará mais fundo a maresia, talvez hesitaria se meu cheiro não estivesse lá, mastigará mais devagar a fruta e citricamente serei seu nó na garganta, lerá poemas nas livrarias e se lembrará de que palavras eram lugares para nós, ouvirá uma música desconhecida com a insatisfação de não termos compartilhado antes, acordará no domingo e suplicará pela segunda para os compromissos me anularem da razão, caminhará mais atento as vozes da rua e se inclinará se a voz for parecida com a minha, pedirá a pizza com meu sabor predileto para sobrar mais lembranças na geladeira, a solidão chegará antes das ligações e dos emails. Encontrará outra pessoa, irá se enfeitar, irá tentar me mostrar que está tentando ser feliz de novo, trocará amor por carência. Os anos marcarão o seu rosto, os filhos acordarão o silêncio da casa, a mão do seu amor te convidará para um dia de feriado, vestirá o sorriso, amará o que tem, desejará ter feito outras escolhas no passado. Duvidará do tempo, desconfiará dos dias de muito sol porque sempre terá uma lágrima por dentro.