sexta-feira, 30 de julho de 2010

O CONVITE

Se quiseres, vem morar no meu peito,
arruma-o ao teu gosto, pinta-o como escolheres, deixe que a luz permaneça nele
Cerre suas portas e janelas, agasalha-te, ama-o calada, mas com cuidado e carinho, que tu não dês seu endereço, a quem quer que seja, guarda-o no silêncio, que silenciosamente guardar-te-ei comigo
Se quiseres, vem fazer do meu coração o teu lar, enfeite-o com vasos e jardineiras nas janelas
Vem por um pouco de fantasia neste espaço, para que ele tenha sonhos coloridos
Vem, para que volte a ter velhos lampejos, vem para que a cada saída tua ele possa ter o sobressalto da espera e a emoção de outras chegadas
Se quiseres, vem sem racionalizar a vinda...
vem somente, fica secretamente, pois se o mundo tiver que nos perceber que seja apenas pelo brilho dos nossos olhos
Se quiseres, se tiveres um pouco de vontade, pode vir sem medo, porque, quando quiseres partir, eu não tentarei prender-te
Mas cuidemos para que o amor não morra, permaneça, fique!
Se quiseres, vem...


nota: Ainda choro relendo a nossa história.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Não se morre de amor nos trópicos

Sossega, nega, não se morre de amor nos trópicos. A morte amorosa é uma invenção dos que hibernam como ursos da Sibéria ou cinzentos donzelos alemães...

O tio tenta uma filosofia de consolação para a amiga que sofre e pena entre a Angélica e Augusta como se fosse num inferno verde de fitzcarráldica fábula babilônica labiríntica, danou-se! a menina nas asas da hipérbole-helicóptera.

Te juega, nega, aqui não se morre disso. Se o jovem Werther aqui fosse nascido, até choraria um tanto o seu infortúnio, mas já já algum vagabundo passaria na sua casa e eles iriam tomar um ele & ela (caldinho com cachaça) na Várzea ou no Pina, freguesia do Recife, iam tirar uma onda na barraca de Jesus ou no seu Rainha, na mesma cidadela invicta, iam tomar uma com Franciel, pura ingresia da Bahia, lá nas beiradas do mercado de São Joaquim, na frente daqueles garajaus com bodes pretos e galinhas idem, além dos gabirus na lama dos currulepes que ali dançam aos pés dos bêbados, seres com ou sem asas para trabalhos de macumba, como reza o manual de zoologia daquele cego portenho da gota.
 
Sossega, preta, roga uma praga neste peste e pronto, cai de novo na lama milagrosa do hedonismo. E se a vida atropelar, de nuevo, na mesma curva, anota a placa, menina, e arrisca no bicho.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Indecências nada mais




Ai vem você e diz assim: não vem mais com aquelas coisas, provocações, sexo, sabe, nossas perversidades de sempre, te peço, encarecidamente, duas vias, papel caborno da burocracia da existência, carimbo, guichês, filas que andam, como se a quentura dos seres assim esfriasse, como se tomássemos o antitérmico do amor e da lenha das nossas sortes; aí donde eu: oxi, foste tu que começaste nas todas vezes últimas; eu sei, mas só te aviso, sabe; não; que sentido fazes?; e se ele soubesse daquele beijo na boca?, na frente do povo?, te daria um murro; ah, não se bate num homem de óculos em seus domínios; e foi na boca mas só raspou o gloss, nada de garganta profunda; lábios que eu beijei, né questão de posse, só merecimento por antiguidade, serviços prestados, usucapião do teu coração que por mim, só por vício, nem mais por amor, ou agora é que será, ainda bate.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

talento é paciência sem fim

Durante minha vida me acostumei a apreender as coisas dadas conforme sua intensidade, sem, até onde isso é humanamente possível, preocupar-me com a duração. Essa é, em última análise, a maneira melhor e mais direta de esperar tudo delas - mesmo a duração. Se começarmos por esta pretensão de que ela dure, arruinamos e falsificamos toda experiência; de fato, nós a paralisamos em sua potencialidade mais própria, mais íntima.
O que de fato não se pode suplicar pode apenas ser dado de presente. Tb penso agora: muitas vezes na vida parece que nada importa senão a mais longa paciência.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

o sliêncio

Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há e-mails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem."

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Conforme a música...



Danço eu, dança você, no compasso da desilusão.

sábado, 10 de julho de 2010

pergunto...

E por falar em saudade, onde anda você?

sábado, 3 de julho de 2010

Dos Três Mal Amados

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Nem se eu quisesse eu quero te querer mais...