terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A quem chega aqui - Por Erica Gaião


Seja bem-vindo. Entre e fique à vontade. Mas, por favor, não toque na minha esperança. Não desarrume as minhas certezas, nem tente abrir a gaveta dos meus sentimentos, se a sua intenção não for ficar. É que quando o amor me invade, costumo me entregar com intensidade. Por isso, fique aqui somente se houver no meio de tudo aquilo que eu sou, parte daquilo que você pretende ser enquanto estiver em minha companhia. A verdade é que os meus pecados são confessos. As minhas virtudes nem sempre são expostas. Minha sensibilidade constantemente me abraça. Minha fragilidade, às vezes, me derruba, mas, ao contrário do que parece ser, eu não sou leve a vida inteira. Tem dias que as circunstâncias pesam sobre mim; ferem a minha alma e adoecem o meu corpo. Tem dias que eu respiro densidades por puro hábito. Mas, ainda que eu caia por qualquer motivo, sempre restabeleço a ordem das coisas através da generosa mão do tempo, que me segura, me encoraja e me levanta, logo após a queda.<

Se desejar ficar, fique. Mas saiba que a sua permanência aqui é um risco de sua inteira responsabilidade. E não espere de mim alguma recompensa por ter escolhido permanecer, sabe por quê? Porque quando há o envolvimento voluntário, a maior recompensa é o acesso direto ao sentimento real e verdadeiro. E aqui, a verdade dos sentimentos é o caminho certo na direção daquele afeto que não tem medida e nunca falha: O amor. Sim, o meu amor é desmedido, mas, ainda se angustia com o improvável. Então, por favor, só faça promessas se junto delas houver alguma certeza. É que eu tenho o hábito de acreditar no outro e sofro o intraduzível quando encontro no meio do caminho vestígios de promessas não cumpridas. Por outro lado, aviso, antes de qualquer envolvimento emocional, que eu não costumo prometer para não correr o risco de fazer sofrer. Portanto, não posso prometer dias seguidos de sol, porque algumas vezes eu sou forte tempestade. Nem me comprometer com as estrelas, para garantir que o meu céu seja iluminado por elas todas as noites, porque, de tempos em tempos a minha luz se apaga, a minha coragem se recolhe e o meu céu torna-se inalcançável. Também não vou jurar amor eterno, compreensão a todo instante, alegrias infindáveis. Eu desconheço eternidades! Não vou curar os seus males, extirpar as suas tristezas, nem entender as suas ausências. Mal compreendo os meus avessos! Não vou medir minhas palavras, nem dizer a coisa certa. As palavras são independentes e aleatórias, tem dias que elas se perdem de mim, e eu não tenho controle algum sobre elas. Minhas tristezas são proporcionais às minhas alegrias. E a minha presença, às vezes, fica indisponível. Por isso, a única garantia é a boa companhia e um coração quase inteiro.

Fique sem medo. Fique e descubra o tamanho das minhas possibilidades. Mas não espere encontrar possibilidade em tudo. Algumas vezes, eu sou quase impossível. Outra coisa: Minha generosidade reconhecerá as suas virtudes; perdoará os seus pecados, mas eu sou feita de limites. E foi exatamente no limite que eu descobri que o amor-próprio deixa de ser quando o perdão das ofensas torna-se uma rotina. Entenda: Não há doação que resista à falta de reciprocidade. Então, peço gentilmente que me abrace de verdade, entenda a minha complexidade e não desanime diante do tamanho da minha intensidade. E, se conseguir mergulhar no meu abismo para descobrir o meu lado inacessível, não se assuste ao encontrar pela frente o caos. Continue o seu percurso guiado apenas pelo desejo de me conhecer profundamente, porque, após a última curva escura, há sempre uma luz que brilha. Por isso, eu te peço: Mantenha a sua fé em mim.

No entanto, se a minha personalidade intrigante desfizer o meu encanto, por favor, vá embora, mas deixe tudo no lugar. Não mexa nas minhas mobílias emocionais, nem nos sentimentos que eu guardei. Deixe as chaves do lado de dentro e bata a porta do meu coração, sem nenhum receio. Vá embora, tranquilo, movido pela certeza de que aqui, talvez, não seja o lugar certo para você ficar. Vá embora, sem fraquejar, porque amor também é desistência. E saber desistir, um jeito sincero e corajoso de amar. Vá embora, em paz, sem jamais esquecer que entre as incertezas que habitam a nossa casa, há uma certeza que nos define e nos completa: Por trás de toda personalidade incompreendida, há sempre um coração solitário batendo forte.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

é disso que estou falando.....

Não estou falando de um mundo cor-de-rosa ou

 de pessoas perfeitas, sempre prontas para 

nos acolher, amar, caminhar ao nosso lado. 

Não falo disso, mas da tristeza nos olhos de 

quem vira as costas e a gente não vê. A 

beleza por dentro de um peito encouraçado 

que 

a gente não sente. A solidão de quem afasta 

um amor e se deita em camas tão frias. É do 

instante quando os olhos se perdem no nada e 

nenhuma mentira é capaz de enganar a si 

mesmo. É desse instante solitário, desse 

instante sem abraço, que eu digo. Todo mundo

 vai virar as costas ou dizer que merece 

coisa melhor ou debochar das mentiras que 

eles contaram… mas a gente pode sempre 

voltar e acolher com amor, ser os primeiros a 

começar. Afinal, se a hostilidade do mundo 


despertar a nossa, quem vai ser o primeiro a 

sorrir?