quinta-feira, 14 de junho de 2018

sobre cansaço mental


Penso mais rápido que falo, falo sem pensar e quase não falo o que penso.
Ser eu não é fácil....

segunda-feira, 4 de julho de 2016

refém



Com dias programados, se desprogramou de grandes 

expectativas. Não atendia aos telefonemas do inesperado. 

Se tornou estrada com placas demarcando limites. Quando 

sentimentos desavisados resolviam fazer "canturia" nas 

janelas do seu coração, de imediato passava a tranca 

no sótão dos sonhos e dormia embalada pelo silêncio da 

noite. Mesmo com todo esse cuidado, em um piscar de 

olhos foi sequestrada por um sorriso, sua armadura 

queimada por palavras docemente firmes. Bastou um 

pequeno gesto e todos os muros, toda a segurança havia 

caído. Se tornou uma sem teto, com pés descalços, sorriso 

fácil, refém nos braços da poesia.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Essência, minha melhor parte

sabe quando a gente descasca a tinta de uma parede descobrindo as cores que estavam por baixo, e se persiste no esforço consegue, finalmente, deixar aparente o tijolo, a origem, a parede como ela nasceu para o mundo, sua verdade por trás das cores que lhe foram forçadas por cima? eu me sinto por ora neste esforço contínuo e paciente, diário: raspar as camadas (muitas) de tintas que me pintaram por cima ao longo dos anos, no correr dos dias, desde quando não consigo me lembrar. libertar-me de tudo aquilo que me puseram nas costas sem ser meu de fato, sem que me pertencesse de modo profundo, verdadeiro, visceral. livrar-me das roupas que me vestiram sem que me coubessem perfeito, recusar-me às máscaras que quase me pegaram à carne. despir-me de todas as palavras, qualidades, defeitos, possibilidades e limitações que me penduraram ao pescoço, como longos colares de contas que me pesam há anos e cada vez mais, causando-me dores crônicas nas costas, nos ossos, na alma. arranquei-os, num gesto largo e definitivo. arrebentaram-se ao vento e cá estou, de peito descoberto, exposto ao vento, ao sol, à chuva e às lágrimas. e ao amor também, do mais profundo que existe: aquele que nasce de mim, em mim, para mim. aquele que carrega consigo aquilo que eu sou, de fato, sem fazeres de conta. estou nua, diante do espelho. assusto-me, mas a um só tempo sorrio, enquanto se me enchem os olhos. tudo ao mesmo tempo agora. esta nudez que me liberta, que me entrega a mim mesma. e se persisto, chegarei ao tijolo. à semente. à essência. àquilo que nasci já sendo, desavisadamente e sem explicação. aquilo que me forma, define e orienta. meu nome próprio. eu. estou muito perto de alcançar meus tijolos – e que bonito é isso.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Pausas Necessárias


Chega um tempo em que não sentimos mais nada e respirar torna-se um ato de bravura. O corpo pesa, a alma pesa, e de tanto pesar, a mente sequer parece nos pertencer.  A inércia nos ampara e o medo alicia os nossos pensamentos diários. A tensão retém os nossos movimentos mais simples a ponto de fazer doer cada passo dado na direção da vida. Chega um tempo que não dá para ser nada além do nada que estabelecemos quando negligenciamos a nossa própria vida. Um tempo em que não existe o certo e o errado, mas, apenas a confusão de sentido que nos desorienta. Em que há mais desilusão do que sonho, mais tristeza do que alegria, mais ausência do que companhia.  A ansiedade engole as nossas defesas e toma conta da nossa fala, do nosso corpo, da nossa alma. Um momento em que não há mais tempo enquanto a vida segue e avança. E aí, nos vemos perdidos dentro da nossa própria casa. Dentro das nossas próprias escolhas e das relações que estabelecemos. É como se nada mais fizesse sentido e as coisas que compomos e organizamos deixassem de fazer parte de nós. É quando tudo se desencaixa e nós nos desapropriamos do nosso próprio mundo. E é nesse tempo de nada que devemos buscar o momento da reflexão. E dar um tempo, literalmente. Deixando de lado tudo o que não verte sentimento algum, para buscar as simbologias contidas em cada elemento que guardamos dentro do nosso mundo particular. Um tempo para compreender nossas próprias fragilidades. Para dissolver o cansaço causado pelas milhões de tensões cotidianas. É preciso dar um tempo para refrear nossos impulsos; retomar o fôlego, reescrever o nosso diário pessoal; avaliar antigos conceitos; formular novas perguntas e buscar novas respostas.
É preciso parar porque tudo no mundo precisa parar um dia. Todos nós precisamos. Sejam paradas curtas ou longas, para recomeçar ou para deixar de ser, não importa. Tudo precisa parar um dia. Um amor, às vezes, precisa deixar de ser amor um pouco, para que possa continuar sendo no momento seguinte. Insistir, prosseguir quando há cansaço demais é como andar num carrossel – nunca para frente, apenas em círculos. Então, é preciso deixar o amor algum tempo adormecido e só observá-lo, estar atento aos seus traços e porquês. Estar atento às suas necessidades, mesmo quando ele as silencia. Só o silêncio da pausa nos faz perceber o que são as coisas e como elas funcionam verdadeiramente. Observar o amor em silêncio é um jeito de prece. Uma forma de entender aquilo que se tem e se sente, com tempo suficiente para perdoar ou para esquecer. Isso é respeitar o amor, a sua força e a sua fragilidade.
A correria dos dias nos faz perder tantos detalhes que, sem querer, deixamos de nos importar com eles. É como se eles não fizessem mais parte de nós a ponto de não virar nem lembrança. Mas um dia, uma montanha desses detalhes se transforma num sentimento gigante, pesado e quase palpável, e vira um vazio que se transforma em cansaço. Ele, por sua vez, causa desistências em série, e todas as coisas perdem sentido, perdem o seu valor. Parar para respirar e retomar o fôlego é dar tempo para que esses detalhes existam; e ainda que você nem tenha os visto passar, receber uma nova chance para percebê-los e experimentá-los. Pois a simplicidade da vida mora nos detalhes que muitas vezes negligenciamos.
Os dias apressados nos engolem inteiros e sem aviso prévio. E, às vezes, não há como correr. E de tão acostumados a isso, talvez deixemos de perceber algum ponto essencial ou alguma  necessidade real que por não ter tido tempo de ser pronunciada, não foi notada e nem sentida. Coisas que só a distância e o silêncio explicam, ensinam e deixam florescer. Coisas que apenas as pausas e os silêncios resolvem e formalizam em nós.
Parar é dar a permissão para que outras coisas passem por nós, enxugando os excessos e lavando os costumes impregnados em nossa carne. Em nosso jeito de olhar. Em nossa fala sempre viciada. Em nossas palavras sempre decoradas e pronunciadas de forma solene e impensada.  A pausa é necessária para sentirmos o que a pressa não nos permite. Deixar doer em silêncio, de uma só vez, aquilo que dói em doses homeopáticas diariamente. Deixar que a pausa do tempo ajuste os afetos dentro de nós. Deixar que os sentimentos se traduzam, ainda que sejam impronunciáveis. Deixar que a vida se encaixe nos nossos sonhos.
É preciso parar e romper com algumas imposições cotidianas para reconfigurar a própria vida. Porque, infelizmente, carregamos ingenuamente a ideia de que é necessário matar um leão por dia para manter o ritmo e satisfazer falsas necessidades, sem compreender de fato o que é prioridade. A prioridade é viver, mas não viver por viver, arrastando os dias. Viver, experimentando detalhes. Viver ouvindo os ruídos dos sentimentos mais impronunciáveis. Viver percebendo a vida, sem atribuir desculpas para as nossas ausências; sem buscar culpados para nossas falhas. Viver, sem se perder no tempo, mas preocupando-se  com o tempo de ser gente. Gente que é livre, que sonha, chora, sofre, pesa, dói e que precisa parar de vez em quando. Já que, embora quase nunca a gente se lembre, não somos como um mar que arrebenta incansavelmente as suas ondas nas rochas, sem o direito ou a escolha de desistir. Porque tal qual Mário Quintana acreditava que a maior dor do vento era não ser colorido, talvez, a maior tristeza do mar seja nunca poder parar para descansar.

 Erica Gaião e Camila Heloíse

quarta-feira, 23 de março de 2016

Ponto de Loucura

Há um instante em que, para ele,
Todo o esforço para se adaptar à sociedade,
Para seguir regras e realizar rituais,
Para falar em um tom de voz adequado,
Escorre pelo ralo.

Há um momento em que, para ela,
Ser politicamente correta, ]
Cuidar com as consequências,
Evitar os abismos,
Deixa de fazer sentido.

Há um ponto nele
Que vezououtra ele ativa,
Que o faz confundir o chão com o teto
E desperta nele um impulso a se afastar para não perder o contorno do seu corpo
Sem que ele mesmo saiba por que se afasta.

Há um ponto nela
Que vezenquando ele toca,
Que faz do seu avesso o lado
Em que ela se reconhece no espelho
Sem que ela mesma saiba que está do avesso.

Há um tipo de fio invisível, que não está no iCloud, na nuvem e nem no dropbox
que os conecta
Quando esse fio é puxado, ativa-se uma região primitiva nele e nela,
Que não é ele mesmo, que não é ela mesma,
Mas que ao mesmo tempo é mais ele mesmo e é mais ela mesma,
Do que ele mesmo e ela mesma.

Há um ponto de loucura no ser humano
Que é intolerante à realidade,
Que se recura à adaptação, não importa se dura dez minutos ou cinco décadas,
Uma insanidade que é socialmente aceita
E que atende pelo nome de amor.

(Ana Suy)

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

te amo, não te amo

Eu te amo, mas quero viver sozinha
eu não te amo, mas preciso dormir com alguém
eu te amo, mas sonho em ter outros homens
eu não te amo, mas quero ter um filho
eu te amo, mas não posso prometer nada
eu não te amo, mas prefiro jantar acompanhada
eu te amo, mas preciso fazer uma viagem
eu não te amo, mas me cobram uma companhia
eu te amo, mas não sei amar
eu não te amo, mas queria.
(Martha Medeiros)

terça-feira, 17 de novembro de 2015

HÁ TEMPOS....

Ele disse 'eu te amo' em inglês. Ela respondeu mecanicamente um 'eu também' em espanhol. Há tempos não falavam a mesma língua.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Agora!

sabe o que é, moço, guardo lembranças no baú e sonho com o que há de vir.
é que a gente, urgente pelo adiante, só acontece depois de uma sequência de agoras.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

SEM EXPLICAÇÃO...

Sem prévio aviso. Foi assim que meu mundinho amargo e dolorido tornou-se agradável, como um chá quente de boldo depois da ressaca.
Aconteceu uma limpeza imaginária nas minhas entranhas e repentinamente fui salva daquela sensação de ânsia tão esquisita que insistia em me visitar.
Puft! E como num milagre, um simples passeio sob o luar faz as ideias clarearem e (quase) tudo ficar bem, como numa novela de cenas afinadas e bem escritas.
Ufa! Já passava da hora de fazer as pazes comigo.
Vivo brigando com minha ansiedade, me digladiando com minha imaginação, mas no fim acabo me entendendo.
A gente briga com nossas caraminholas, mas no fundo a gente se ama. Um amor sem explicação.
Tô exausta das tentativas de me decifrar e nunca achar uma saída. Cansei das minhas neuras esdrúxulas e incoerentes. Cansei até de sonhar acordada, mesmo achando poético ser como sou. Cansei, mas não desisti. No fundo, não trocaria minha cabecinha perturbada por nenhuma sã.
Sei lá se quero você para sempre, só por uma noite ou se quero que todo esse romance blasé se dane. Não consigo me decidir nem sobre a cor do meu vestido, então não venha me cobrar definição.
Garçom, desce mais um chá de boldo imaginário pra curar de vez minhas neuras de estimação!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

“QUERO ESTAR SOLTEIRA, MAS COM VOCÊ”

“Quero que vá tomar cerveja com seus amigos para que no dia seguinte tenha ressaca e me peça que vá lhe ver porque deseja ter-me entre seus braços e que acariciemos um ao outro. Quero que conversemos na cama pela manhã, sobre todo tipo de coisas, mas algumas vezes, pela tarde, quero que cada um faça o que quiser durante o dia.
Quero que me fale sobre as noites em que você sai com seus amigos. Que me conte que havia uma menina no bar que te olhava. Quero que me mande mensagens quando estiver bêbado com seus amigos e que me diga besteiras, apenas para que possa ficar seguro de que eu também estou pensando em você.
Quero que ríamos enquanto fazemos amor. Que comecemos a rir porque estamos provando coisas novas e que não têm sentido. Quero que estejamos com nossos amigos, para que pegue na minha mão e queira me levar a outro local, porque já não pode aguentar-se e tem vontade de fazer amor comigo ali mesmo. Quero ter de permanecer em silêncio porque há pessoas e ninguém pode nos ouvir.
Quero comer com você, que me faça querer falar sobre mim e que você fale sobre você. Quero que discutamos sobre qual é o menor: a costa norte ou a costa sul, a parte ocidental ou a oriental. Quero imaginar o apartamento de nossos sonhos, mesmo sabendo que provavelmente nunca vivamos juntos. Quero que me conte seus planos, esses que não têm nem pé, nem cabeça. Quero surpreender-me dizendo “Pega seu passaporte que estamos indo”.
Quero ter medo com você. Fazer coisas que não faria com ninguém mais, porque com você me sinto segura. Voltar para casa muito bêbada depois de uma noite divertida com amigos. Para que coloque a mão no meu rosto, me beije, me use como travesseiro e me abrace bem forte durante a noite.
Quero que tenha sua vida para que decida viajar algumas semanas, apenas por capricho. Para que eu fique aqui, sozinha e chateada, desejando que salte sua carinha no Facebook me dizendo “oi”.
Não quero que sempre me convide para suas noitadas e não quero convidar você para as minhas. Assim, no dia seguinte, posso contar como foi minha noite e você também pode contar-me como foi a sua.
Quero algo que seja simples e, uma vez ou outra, complicada. Algo que, por alguns minutos, me faça fazer perguntas a mim mesma, mas no momento que estiver com você em um mesmo local, desapareçam todas as dúvidas. Quero que pense que sou bonita e que fique orgulhoso ao dizer que estamos juntos.
Quero que me fale te amo e, acima de tudo, poder dizer isso a você. Quero que me deixe andar na sua frente para que possa ver como meu corpo se mexe. Para que me deixe raspar as janelas do meu carro no inverno, porque meu bumbum balança e isso te faz sorrir.
Quero fazer planos sem saber se no fim os realizaremos. Estar em uma relação clara. Quero ser essa amiga que você adora ficar. Quero que siga tendo desejo de paquerar outras meninas, mas que procure a mim para terminar o dia. Porque quero ir contigo para casa.
Quero ser aquela com quem você faz amor e depois dorme. A que te deseja paz quando está trabalhando e a que fica encantada quando você se perde no seu mundo de músicas. Quero ter uma vida de solteira com você. Porque nossa vida de casal seria igual às nossas vidas de solteiros de agora, só que juntos.
Um dia te encontrarei”.

(Essa é a reprodução íntegra da carta escrita por IsabelleTeissier, que viralizou na internet e uma vontade minha)

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

das coisas que o amor faz....

Guardar um amor desse entre nós é como querer fazer de um tubarão um animal de estimação – colocá-lo numa coleirinha qualquer e achar que conseguiremos dar uma volta com ele por aí. O amor pulsa, xinga, explode, quebra, beija, fode, fotografa, come, chora, dança, gargalha, grita, abraça, cobra, cobre, cuida, belisca, perturba, implica, machuca, inventa, reinventa, amassa, vomita, goza, descansa e vive. O amor só não sabe morrer.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O amor é a janela que permanece aberta

Então o amor é isso. Esse abismo antipoético entre a paz e a saudade aflitiva. Essa ausência invencível. Essa dor tão boa de sentir. Essa solidão avolumada pela distância. Essa vontade de esvaziar-se ao mesmo tempo em que se transborda de lembranças quentes e pulsantes. E amar consiste nessa insanidade linda e corrosiva.
Então o amor se escreve com mais de quatro letras e sua pronúncia transita entre uma doce melodia e uma angustiante memória. Há o desejo imensurável de voltar a vivê-lo, lutando para engolir a sã consciência de que é melhor mata-lo dentro de si.
Então o amor é mais do que era quando ele estava aqui. É o que resta de quem fica. O detalhe mais gritante, em cada lugar que se vá. O cheiro que persiste. O gosto intravenoso. O silêncio que isola do mundo externo. As canções que foram escolhidas a dois. As palavras recrutadas para acarinhar com precisão. A perda de grande parte de tudo.
Então o amor é o maior risco a se correr. A pequena morte diária de quem ama. O acerto mal calculado. A tristeza mais afável. A inspiração insensata. A esperança nascida em vão.
Então o amor é, sobretudo, esse desespero secreto que ninguém pode colher nos olhos de quem o sente. E torna tudo impossível depois que chega. E tudo inútil depois que se vai...

quarta-feira, 29 de julho de 2015

seja o que for....




Há em você alguma coisa de mimAlguma coisa que eu vejo e me acalma. Como se eu pudesse deitar de novo no lugar de onde vim,pois só você sabe que lugar é esse. Então você me entende...e eu não me entendo tanto quanto entendo de ti. Talvez isso seja amor. Talvez não. Seja lá o que for é incondicional. 


(Fernanda Young)

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Anjo meu

Soneto de Homenagem

Se há nesta vida um Deus para os acasos,
Que pela humanidade o bem reparte
Que te dê da fortuna a melhor parte
Que venturas te dê, sem lei nem prazos.

Eu, de alegrias tenho os olhos rasos
de lágrimas, querida, ao vir brindar-te
Quando vejo que até para saudar-te,
As flores se debruçam sobre os vasos.

O meu brinde é sumário, curto e breve
Se o nome que se quer, quando se escreve
Move-se a pena com traços ideais.

Um anjo como tu, quando se brinda
Tem-se a missão cumprida e a festa finda
Quebra-se a taça e não se bebe mais.

(Antero Quental)

terça-feira, 21 de julho de 2015

das perdas

(...)e nós que morávamos um no outro, ficamos sem casa. Perdoe a falta de abrigo, é que agora eu moro no caminho.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Dia dos enormes!



Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri destravado. É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade. Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto. Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês. Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo. É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes. Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande. É a sua sensibilidade sem tamanho. 

domingo, 24 de maio de 2015

quando o amor me toca...

Desfaço-me dos falsos versos que não me descrevem, cada vez que rasgo o verbo. Refaço-me inteira quando a palavra me ressignifica, transformando meias verdades em verdades precisas. Sou prosa sem rascunho e sem esboço. Sou sentimento sem razão nenhuma. A inexatidão me define. A imensidão me delimita. Paraliso e emudeço, enquanto ainda sou passo percorrendo o caminho. E quando mergulho no breu da incerteza, não há sol que me ilumine; do mesmo jeito que acontece, quando a tempestade representa o meu estado de espírito. Sou por dentro e por fora o mesmo tempo. Há um mundaréu de (des)ilusões vagando pelos meus dias. Há o dobro de alegrias minando as minhas tristezas. Há quem diga que eu sou frágil demais, exagerada demais, mas eu digo que a minha força mora no meu excesso de sensibilidade. Sou a crença e a descrença. Sou a fé e a falta dela… Sou tanta coisa que pode não significar nada de concreto. Sou a simplicidade que pode ser definida em uma única palavra. Sou certeza que se desarruma quando o amor me toca…
Quando o amor me toca…O amor me toca…
Porque quando o amor me toca, eu esqueço que sou gente – do tipo que se endurece quando se aborrece, se atrapalha quando falha, se confunde quando erra – e me transformo em flor, colorida e perfumada, chamada poesia. Amor é o meu conteúdo e o meu significado. E poesia, a minha lente de enxergar levezas, quando tudo em volta é dureza e caos.
(Erica Gaião)

quinta-feira, 5 de março de 2015

Que preguiça...


Ando com tanta preguiça de sofrer, 
acho que minhas dores se cansaram de mim.
Tenho estado diferente... sem aptidão para repetições.
Com alguns machucados atravessados no peito, sentia medo de não reconhecer mais a inocência, mas hoje percebo que eles podem até ter feito faltar sorrisos, mas nunca motivos.
Então cansei de doer.
Agora vivo diante desse tobogã de possibilidades que é a vida. Afinal, foi na desistência que comecei a crescer...
E, por tudo que doeu, agradeço, trago comigo infinito acervo afetivo.
À noite, antes de dormir, diante do espelho, falo :
- Ei... preciso saber se você ainda está aí...
Fecho os olhos, e percebo que estou.
Então, acho que dou conta de mim.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A quem chega aqui - Por Erica Gaião


Seja bem-vindo. Entre e fique à vontade. Mas, por favor, não toque na minha esperança. Não desarrume as minhas certezas, nem tente abrir a gaveta dos meus sentimentos, se a sua intenção não for ficar. É que quando o amor me invade, costumo me entregar com intensidade. Por isso, fique aqui somente se houver no meio de tudo aquilo que eu sou, parte daquilo que você pretende ser enquanto estiver em minha companhia. A verdade é que os meus pecados são confessos. As minhas virtudes nem sempre são expostas. Minha sensibilidade constantemente me abraça. Minha fragilidade, às vezes, me derruba, mas, ao contrário do que parece ser, eu não sou leve a vida inteira. Tem dias que as circunstâncias pesam sobre mim; ferem a minha alma e adoecem o meu corpo. Tem dias que eu respiro densidades por puro hábito. Mas, ainda que eu caia por qualquer motivo, sempre restabeleço a ordem das coisas através da generosa mão do tempo, que me segura, me encoraja e me levanta, logo após a queda.<

Se desejar ficar, fique. Mas saiba que a sua permanência aqui é um risco de sua inteira responsabilidade. E não espere de mim alguma recompensa por ter escolhido permanecer, sabe por quê? Porque quando há o envolvimento voluntário, a maior recompensa é o acesso direto ao sentimento real e verdadeiro. E aqui, a verdade dos sentimentos é o caminho certo na direção daquele afeto que não tem medida e nunca falha: O amor. Sim, o meu amor é desmedido, mas, ainda se angustia com o improvável. Então, por favor, só faça promessas se junto delas houver alguma certeza. É que eu tenho o hábito de acreditar no outro e sofro o intraduzível quando encontro no meio do caminho vestígios de promessas não cumpridas. Por outro lado, aviso, antes de qualquer envolvimento emocional, que eu não costumo prometer para não correr o risco de fazer sofrer. Portanto, não posso prometer dias seguidos de sol, porque algumas vezes eu sou forte tempestade. Nem me comprometer com as estrelas, para garantir que o meu céu seja iluminado por elas todas as noites, porque, de tempos em tempos a minha luz se apaga, a minha coragem se recolhe e o meu céu torna-se inalcançável. Também não vou jurar amor eterno, compreensão a todo instante, alegrias infindáveis. Eu desconheço eternidades! Não vou curar os seus males, extirpar as suas tristezas, nem entender as suas ausências. Mal compreendo os meus avessos! Não vou medir minhas palavras, nem dizer a coisa certa. As palavras são independentes e aleatórias, tem dias que elas se perdem de mim, e eu não tenho controle algum sobre elas. Minhas tristezas são proporcionais às minhas alegrias. E a minha presença, às vezes, fica indisponível. Por isso, a única garantia é a boa companhia e um coração quase inteiro.

Fique sem medo. Fique e descubra o tamanho das minhas possibilidades. Mas não espere encontrar possibilidade em tudo. Algumas vezes, eu sou quase impossível. Outra coisa: Minha generosidade reconhecerá as suas virtudes; perdoará os seus pecados, mas eu sou feita de limites. E foi exatamente no limite que eu descobri que o amor-próprio deixa de ser quando o perdão das ofensas torna-se uma rotina. Entenda: Não há doação que resista à falta de reciprocidade. Então, peço gentilmente que me abrace de verdade, entenda a minha complexidade e não desanime diante do tamanho da minha intensidade. E, se conseguir mergulhar no meu abismo para descobrir o meu lado inacessível, não se assuste ao encontrar pela frente o caos. Continue o seu percurso guiado apenas pelo desejo de me conhecer profundamente, porque, após a última curva escura, há sempre uma luz que brilha. Por isso, eu te peço: Mantenha a sua fé em mim.

No entanto, se a minha personalidade intrigante desfizer o meu encanto, por favor, vá embora, mas deixe tudo no lugar. Não mexa nas minhas mobílias emocionais, nem nos sentimentos que eu guardei. Deixe as chaves do lado de dentro e bata a porta do meu coração, sem nenhum receio. Vá embora, tranquilo, movido pela certeza de que aqui, talvez, não seja o lugar certo para você ficar. Vá embora, sem fraquejar, porque amor também é desistência. E saber desistir, um jeito sincero e corajoso de amar. Vá embora, em paz, sem jamais esquecer que entre as incertezas que habitam a nossa casa, há uma certeza que nos define e nos completa: Por trás de toda personalidade incompreendida, há sempre um coração solitário batendo forte.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

é disso que estou falando.....

Não estou falando de um mundo cor-de-rosa ou

 de pessoas perfeitas, sempre prontas para 

nos acolher, amar, caminhar ao nosso lado. 

Não falo disso, mas da tristeza nos olhos de 

quem vira as costas e a gente não vê. A 

beleza por dentro de um peito encouraçado 

que 

a gente não sente. A solidão de quem afasta 

um amor e se deita em camas tão frias. É do 

instante quando os olhos se perdem no nada e 

nenhuma mentira é capaz de enganar a si 

mesmo. É desse instante solitário, desse 

instante sem abraço, que eu digo. Todo mundo

 vai virar as costas ou dizer que merece 

coisa melhor ou debochar das mentiras que 

eles contaram… mas a gente pode sempre 

voltar e acolher com amor, ser os primeiros a 

começar. Afinal, se a hostilidade do mundo 


despertar a nossa, quem vai ser o primeiro a 

sorrir?