quinta-feira, 31 de março de 2011

vida sempre, apesar da morte.

Entre a vida e a morte há apenas
o simples fenômeno de uma sutil transformação. 

A morte não é morte da vida.
A morte não é inação, inutilidade.
A morte é apenas a face obscura,
mínima, em gestação de uma viagem que não cessa de ser. Aventura prolongada desde o porão do tempo. Projetando-se
nas naves inconcebíveis do futuro.

A morte não é morte da vida: apenas novas formas de vida. Nova utilidade. Outro papel a desempenhar
no palco velocíssimo do mundo.

Novo ser-se (comércio do pó) e não se pertencer.
Nova claridade, respiração, naufrágio
na maquina incomparável do universo.




Meu amigo Zédu, apesar da enorme tristeza da sua perda, fica em mim a alegria por ter te conhecido, e ter partilhado de tão bons momentos. Seu sorriso sincero, força, alegria, imaginação, comprometimento com o caminhos do bem farão parte da minha memória. Seja luz onde estiver, como foi enquanto esteve em nosso convívio. Amor.

domingo, 27 de março de 2011

" "

Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças?
 Cada pequena ausência me parece uma eternidade

quarta-feira, 23 de março de 2011

 COMO EU SOU GIRASSOL , VOCÊ É MEU SOL.

Fernando Pessoa

"Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram!"

Difícil fotografar o silêncio

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Lição de casa

Quero aprender a andar na luz do dia.
Quero aprender a gostar de calor
Enquanto esse verão ainda existe,
Antes do frio e do cobertor.

Quero aprender a perder o meu rumo,
Chupar o sumo do que eu for sentir,
Tragar o mundo como eu trago o fumo,
Perder o prumo e me deixar cair

E desse jeito aprender o que é vida,
O que é preguiça de se aborrecer,
Olhar o mundo como quem me ama
Que disse que me ama até morrer.

Quero aprender a dizer o teu nome
Como ninguém nunca ousou dizer,
A ser você, a matar minha fome
No teu sorriso que me faz morrer.

Quero aprender a não dizer mais nada
Dizendo tudo o que puder haver,
Falando pouco, em poucas palavras
Contar pro mundo que tudo é você

E desse jeito aprender o que é vida,
O que é preguiça de se aborrecer,
Olhar o mundo como quem me ama
Que disse que me ama até morrer.

Quero aprender a me esquecer da vida,
Ter na cabeça só raios de sol
Como a minha querida
E sem mais sem mais, sem mais
Sem nada só você, amor.

Quero rodar enquanto o mundo roda,
Fazendo pó na estrada com você.
Ouvindo moda enquanto você joga
Em mim a culpa por querer viver.

Quero cantar como num balbucio
Porém gritando se eu quiser gritar,
Por opção, como quem ama o Rio
Mas tem São Paulo como seu lugar

E desse jeito aprender o que é vida,
O que é preguiça de se aborrecer,
Olhar o mundo como quem me ama
Que disse que me ama até morrer.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O Guardião do Castelo

    Certo dia, num mosteiro zen-budista, com a morte do guardião foi preciso encontrar um substituto. O grande Mestre convocou então todos os discípulos para determinar quem seria o novo sentinela. O Mestre, com muita tranqüilidade, falou:
- "Assumirá o posto o primeiro monge que resolver o problema que vou apresentar."
Então, ele colocou uma mesinha magnífica no centro da enorme sala em que estavam reunidos e, em cima dela, pôs um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza a enfeitá-lo e disse apenas:
- "Aqui está o problema!" Todos ficaram olhando a cena. O vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro. O que representaria? O que fazer? Qual o enigma?
Nesse instante, um dos discípulos sacou a espada, olhou o Mestre, os companheiros, dirigiu-se ao centro da sala e ... ZAPT ... destruiu tudo, com um só golpe. Tão logo o discípulo retornou a seu lugar, o Mestre disse:
- "Você será o novo Guardião do Castelo."
Moral da História: Não importa qual o problema. Nem que seja algo lindíssimo. Se for um problema, precisa ser eliminado. Um problema é um problema. Mesmo que se trate de uma mulher sensacional, um homem maravilhoso ou um grande amor que se acabou. Por mais lindo que seja ou, tenha sido, se não existir mais sentido para ele em sua vida, tem que ser suprimido.
Muitas pessoas carregam a vida inteira o peso de coisas que foram importantes no passado, mas que hoje somente ocupam um espaço inútil em seus corações e mentes. Espaço esse indispensável para recriar a vida. Existe um provérbio oriental que diz: "Para você beber vinho numa taça cheia de chá é necessário primeiro jogar o chá fora, para então, beber o vinho."

Definitivo

"Às vezes no amor ilícito está toda a pureza do corpo e alma, não abençoado por um padre, mas abençoado pelo próprio amor".

tempo

Faça um acordo comigo. Espera um pouco, por favor. No momento, não tenho tanta força para caminhar no seu ritmo. Me deixa caminhar no meu andar e não me condene por isso. Não me permita perder a banda que passa, se por acaso eu dormir um pouco mais. E por favor, não me jogue nos corredores das coisas obsoletas, caso eu precise respirar, pausar, parar, respirar, antes de levantar e andar.
É que eu já fui melhor nisso de te acompanhar. Aliás, nos dávamos muito bem até alguns meses atrás. Lembra disso? Confesso que não lembro tanto mais, ou talvez não queira lembrar.
Hoje em dia, não hoje propriamente dito, mas de um tempo para cá, nosso compasso descompassou. Você tem andado muito rápido, querido tempo. E eu não. Eu tive que parar, colocar uma lerdeza nada poética no meu ritmo e não adiantou te ver marcando meus momentos no relógio do celular, na hora da academia, ou no horário das visitas do UTI. Alguma coisa eu não saquei. Eu tive que parar. Foi preciso lhe ignorar, deixar de ser tua amiga, deixar de andar contigo.
E durante um bom tempo, essa sua velocidade foi cruel comigo, me atropelou porque eu simplesmente não consegui me mexer para sair da frente. Quase todo dia um atropelamento, você tomou coisas de mim. As coisas, as pessoas importantes, que eu me distraí e perdi no caminho. Eu não te vi passar.
Foi assim que nos tornamos tão dissonantes. Poderia até dizer que agora nos tornamos inimigos, mas eu me prometi acreditar que um dia nos reencontraremos. E enquanto você for mais forte do que eu, querido tempo, por favor não me deixe perder mais do que já perdi. Não me dilacere mais. E se alguém pensar que estou submissa a você, ou que perdi o jeito de "fazer a hora e não esperar acontecer".
É isso mesmo. Eu perdi. Eu estou.

Eu espero.

Espero, porque esperar também é uma forma de acreditar. Espero porque agora tenho muito sono, muito cansaço. Espero, principalmente, porque quero não ter mais pressa, quero não calçar meus dias na expectativa de te alcançar. E quero não ser punida por isso, mas confesso que tenho medo.
Talvez, seja este medo que me deixa tão sonolenta. Que coloca em mim uma ausência de desejos. Pode ser. Mas eu espero. Talvez seja só o que sei fazer.
Espero pelo retorno do Bumerangue. Pelo momento que em possamos nos reencontrar novamente para tomar um café ou um suco e pelo dia em que vamos nos perceber parceiros novamente.
Enquanto isso, apenas lhe peço, não me deixe perder o crescimento dos amores que ainda amo, os quais você conhece muito bem. Não deixe que eu durma sem sonhar, nem que volte a desejar sem acordar. Não me deixa recordar, mas não me permita esquecer.
De alguma forma, mesmo de longe, mesmo tão melhor do que eu, não confirme a possibilidade de que talvez sejamos, agora, inimigos. Fique longe, seja mais ágil, eu aceito, mas, por favor, não se esqueça de mim. Lhe peço. 


tirado daqui e coube diretinho no meu dia