quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Já que sou, o jeito é ser.*

Sou a que chora pelos motivos que ninguém vê
Aquela que tem uns medos que disfarça
Aquela que acredita quando não devia acreditar
Alguém que fala em demasia e não se entende
A que dança sabendo dançar e canta sem saber cantar
Que devia ir ao analista mas se deu alta
Imagina muito e sofre por antecedência
Conclui sem ouvir
E se esmera pra ser eloqüente
È afobada, ansiosa, corre e não sabe esperar
Acha que sabe muito da vida e não pensa na morte
Não sabe como vai morrer e nem quer saber
Aliás, espera não morrer
E nem acredita em milagres
Gosta de pastel e não ama chocolate
Cabelos escorridos desejando ser cacheada(mentira, o contrário)
Atrevida, briguenta,manteiga derretida, comovida sempre
Rosto sem assimetria, vesguice sutil, pés feios
Deseja um mundo paralelo no fundo do armário da biblioteca
Achava que podia ser Alice e hoje ta mais para Chapeleiro Maluco
Brinca com fogo e blefa no jogo
Foi uma criança feliz que brincava sozinha
Foi sempre forte e adulta porque não tinha escolha
Responsável, conselheira, equilibrada por necessidade
E dentro dela todas as cores do mundo
Vive intensamente, sem importar no que dê
E dá com os burros n’água (como dá)
Quando olho, vejo um gramado verde, um céu azul
Uma imensidão e uma criança fazendo suas escolhas
Essa sou eu. 

texto: Anna Duarte
Título: Clarice Lispector

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sobre o que não fomos, por Karla Tabalipa . (Ou Desamando)

 
 
Eu ia ser tão sua, que o mundo inteiro ia me olhar e enxergar você.
Ia me jogar no seu colo quando você chegasse, e passar o dia assim, morando no seu abraço.
Ia dedicar a você, banhos e poesias. Te beijar como se fosse a última vez. Te amar a noite toda, o dia inteiro, o resto da vida.
Não me importaria em ser clichê, piegas, melosa demais, se fosse só sua e você fosse só meu.
Ia lembrar de você escutando as músicas mais lindas do mundo, e te ligar de madrugada, só pra lembrar o quanto você é importante pra mim.
Ia ser toda sua. De corpo e coração. Ia encher sua carteira de bilhetes, lembrando o quanto você e lindo, e melhor do que todos os outros caras do planeta inteirinho.
Ia mandar mensagem no meio do dia pra não te deixar esquecer, que não esqueço de você.
Ia te prender com pernas, letras e coração. E ainda sim, te deixar ir, só pra te ver escolhendo ficar.
Ia ser sua paz e seu desassossego. Sua menina e sua mulher.
E sua, sempre sua, só sua. Tão sua, que ninguém ousaria tentar me tirar de você. Tão sua, que você não teria o menor medo de me perder.
Eu teria sido sua, se não fosse o medo de um dia você deixar de ser meu. 



Era bom.....

"Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus - enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom."

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Todos os sentimentos do mundo

 
delicada, carrega uma vontade enorme nas mãos, e todos os sentimentos do mundo. determinação e curiosidade nunca faltam, nem mesmo quando a preguiça insiste em ficar. leva o arco-íris em cada fio de cabelo e nos olhos, tudo o que cintilar. tem medo de reviravoltas muito bruscas, mas coragem suficiente para enfrentá-las. gosta de vermelho, roxo, cores, rimas, brisa fresca, sombra, música, violão, flores, arte, cinema, abraço, cheiros e tudo mais que provoca arrepios. procura sempre pela próxima poesia que a espera na esquina. e, quando encontra com si mesma, escreve. e como escreve. se entrega nas menores coisas, aprendeu que é assim que se descobre os pequenos prazeres. se preocupa um tanto com o futuro, mas não esquece que ele depende do agora. fica por demais feliz quando consegue levar alegria a alguém. cultiva jardins secretos e colhe bem-me-quer. algumas vezes, tem nuvens demais nos pés. gosta de descansar do chão. é muito mais chegadas que partidas, muito mais lua que sol. tem dias que amanhece urgências e inaugura noites. se equilibra na linha tênue, sem perder o compasso. leva uma certeza no bolso: guardar o tempo, ajuda a traçar o contorno da vida.

[Renata Carneiro, praticamente falando por mim]

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O contrário de dizer adeus pode se chamar amor. Ou de como me tornei leve.


Aproveito sua ausência pra matar as saudades de mim. Nem me lembrava do quanto posso ser doce, de como é gostoso acarinhar minhas carências e fazer minhas vontades.
Acho até que o destino cansou de me contrariar.
Ok, você sabe que não acredito em destino... Mas se acreditasse, escreveria um bilhetinho agradecendo a trégua dos últimos dias.
‘Senhor Destino, valeu o cessar fogo. Vamos poupar artilharia e promover a paz.’
Não que as coisas estejam em ritmo de final de novela. Ainda tem meia dúzia de personagens me incomodando e alguns arremates que preciso ajustar pra ficar satisfeita com o enredo.
Meu cabelo podia ser mais liso, meus textos mais engajados e você mais receptivo. Mas não tô reclamando, não. Ao contrário, ando flertando com as minhas qualidades e gostando mais de mim.
A ansiedade continua aqui, só que mais comportada. Vira e mexe me cutuca e ameaça birra. Aí dou bronca e ela senta cabisbaixa, com as perninhas balançando no ar.
Hoje de manhã acordei com o passado chutando a porta. Ameacei chorar. Pensei em voltar atrás, jogar pro alto a evolução e a placidez dos últimos dias. Corri pro espelho e ele me confidenciou que sou mais bonita sorrindo. Resolvido: sorri ao invés de berrar e escapei de ouvir ecos dos meus gritos.
Viu? Ainda sei me virar sozinha, embora você me vire do avesso como ninguém. Vai ver é esse o problema: não quero viver do avesso.
Dei carinho, apoio e espaço. Mas você é exageradamente adepto da calma. Corro o risco de receber sementes ao invés de flores.
Quer saber? Me importo, mas não me inflamo. Toma, um sorriso pra você também. Tô muito mais preocupada comigo, em manter os bons ventos que a vida anda soprando.
O que uns chamam de egoísmo, eu chamo de paz.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

pq é sexta-feira, dia de boteco



Dois pastel e um chopps!!!

Iansã dos ventos

Entre um cigarro e uma fresta de desespero, eu escolho a palavra. Tenho raiva de dores que me calam fundo. Filha de Iansã dos Ventos, eu mudo a direção das chuvas se pretendo outro tempo ou momento. Meu corpo é cais e mar aberto. Meu coração é caos, céu encoberto. Minha mente, esse relâmpago de luz.A escolha é sempre extrema. Não me comovem tuas palavras tão amenas. Então que minha sede traga tempestades e que meus seios incitem teus maiores incêndios. Não gosto de superfícies ilesas, eu busco o de dentro. Posso transformar tristeza em raiva pra sentir mais força. Posso afogar minha doçura num rio de águas tão enjoativas. Mas sei reverenciar o mar que temo.
E quando eu te tiver nos braços, Obaluaiê, me escuta: você terá a realidade dos teus sonhos. Não pretenda minha fúria, queira-me mansa.Não pretenda minha mansidão, queira-me intensa. Perceba quando eu digo um sim dentro de um não.
E quando eu te tiver nos braços, Obaluaiê, me escuta: só te restará a escolha entre a tempestade e o furacão.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Do que me lembro

Hoje revi minhas escolhas.
Ao contrário do que sempre defendi,
nem sempre segui meu coração.
Algumas vezes tive que escolher
o que achava que seria melhor para aquele momento,
não necessariamente pra mim. Mas fiz.
 Mesmo correndo todos os riscos.
Mesmo com o coração doendo.
Mesmo que eu tivesse que perder
as pessoas que mais amava para.
Mesmo que um pedaço de mim tenha ficado.
Mesmo que isso. Mesmo que aquilo.
 Mesmo que tudo.
Mesmo tendo que deixar um passado
lindo pra trás. Mesmo assim...
eu segui um caminho.
Eu não sei o que vai ser amanhã.
Nem no mês que vem.
Menos ainda os próximos que virão.
O que sei é que a trilha
do meu destino sou eu quem faço.
E nem tudo o que vai, vai pra pra sempre.
Há o recomeço.
Há que se ter força para não desistir.
E eu continuo... 
Sempre me encontrando,
Sempre surpresa comigo mesma.
Vez por outra lembro daquele dia,
daquela tarde, do sol,
daquela música,
daquele abraço,
do teu cheiro,
das tuas manias.
Lembro também de mim,
de como eu era quando estava com você,
do que eu aprendi,
do que eu vivi,
do que eu sorri,
do que eu cantei,
do amor,
de nós.
Da inteireza de você em mim.
Do que permanece.

Bronca

Vá trabalhar, coração vagabundo!

O amor tirou de mim tudo que era falta


'O que me interessa no amor, não é apenas o que ele me dá, 
mas principalmente, o que ele tira de mim: 
a carência, a ilusão de autossuficiência, 
a solidão maciça, a boemia exacerbada para suprir vazios. 
Ele me tira essa disponibilidade eterna para qualquer um, 
para qualquer coisa, a qualquer hora. 
Ele apazigua o meu peito 
com uma lista breve de prós e contras. 
Mas me dá escolhas. 
Eu me percebo transformada pelo que o amor
 tirou de mim por precisar de espaço amplo 
e bem cuidado para se instalar. 
O amor tira de mim a armadura, 
pois não consigo controlar a vulnerabilidade 
que vem com ele; tira também a intransigência. 
O amor me ensina a negociar os prazos, 
a superar etapas, a confiar nos fatos.
 O amor tira de mim a vontade de desistir com facilidade,
 de ir embora antes de sentir vontade, 
de abandonar sem saber por quê.
 E é por isso que o amor me assombra 
tanto quanto delicia. 
Porque não posso virar as costas
 pra uma mania quando ela vem 
de uma pessoa inteira. 
Porque eu não posso fingir que quero estar sozinha
 quando o meu ser transborda companhia. 
O amor me tira coisas que eu não gosto, 
coisas que eu talvez gostasse, 
mas me dá em dobro o que nunca tive: 
um namoramento por ele mesmo. 
O amor me tira aquilo que não serve mais 
e que me compunha antes.
 O amor tirou de mim tudo que era falta.'


[Marla de Queiroz]

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder


Se partires, não me abraces – a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.

Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces –

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém – longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.
Maria do Rosário Pedreira

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Inteira

Eu me recuso a amputar meus sentimentos.
Eu nasci para sentir com todos os meus membros.

(Marla de Queiroz) 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

viagem

Falámos do sorrir do rir e da gargalhada. Falámos de como os olhos sorriem e de não conseguir chorar. Falámos de chorar, de chorar muito, de não conseguir parar de chorar. Falámos de conseguir falar e de não conseguir falar. Falámos de não conseguir dizer o que os olhos dizem, de não conseguir, de querer e não pronunciar. Falámos de querer calar e não conseguir quando as palavras se soltam em cascata. Falámos da pele e do toque que diz tudo sobre o que o coração sente. Falámos do coração que de tão grande salta da boca e falámos das noites passadas a ver as estrelas e o mar. Falámos das noites não dormidas, das noites em que os corpos se unem e os braços e as pernas se colam e os peitos se confundem e o suor se desalinha. Falámos dos gemidos que se gravam na nossa memória e das tatuagens que ficam para quando só restar um rosto tremido em frente a um espelho. Falámos do desejo e da vontade louca de parar o momento. Aquele momento. Falámos dos caminhos que se cruzam e dos caminhos que se deixam de caminhar. 

E parámos de falar. 

Vertemos lágrimas que se desenharam nas veias dos braços. Lágrimas que nos disseram que também somos felizes quando choramos muito. E chorámos muito e rimos ao mesmo tempo. Percebemos que não conseguimos estar muito tempo a respirar outro ar que não o nosso. Respirámos o nosso ar e faltou-nos o ar. 

Faltou o ar. 

E voltámos a falar. Gritámos até. Falámos de todos os frutos, das árvores e dos seus longos braços e das estradas por caiar. Falámos das paredes que fotografámos e do que está escrito nelas. Falámos de asas. Falámos de voar. E voámos. 

Falámos de amor.

in «Penitências de um Ser no Anonimato» de «Francisco»

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Será?

Será que ainda ficas oca, certos dias, por te teres esvaziado de mim?

Tu tão parecida com o vento que rodopia nas almas
para se entalar nas frestas da angustia, na luz da escuridão,
nos passos imóveis que nunca se dá porque seriam fatalmente motores
Tu que me embalas e me arrastas e em dias de sorte me fazes chorar
como se chorar fosse a última hipótese de te ter ao meu lado em cada lágrima
como se cada lágrima fosse um barco possível para regressar a ti
para te chamar ao meu corpo como as sirenes dos navios acordam
em estertor em dias de nevoeiro os portos perigosos das paixões
Tu que pouco sabes de ti e que de mim te apartas como se não fosses tu
como se houvesse viagens com retorno, como se fosse possível
terminar e determinar aquilo que é infinito porque não morreu
.

(...)

Será que entendes o enigma que sem saberes sou eu para ti?
Será que alguma vez leste na minha pele toda a evidência
ao ponto de te embriagares de quebrares muros resistências
análises trancas algemas receios talvez inúteis de brisas talvez fecundas?

Tu que te estatelas agora no céu de cada noite deserta
será que algum dia tornarás a ler o céu no chão?
Será que em alguma papelaria escondida na cidade
encontrarei um dia um mapa para te ler sem te sufocar?

Tu que me tropeças cada passo, será que tens ainda em ti
o único pulmão que já me fez respirar?


Vivo apenas uma praia oca. Nem areia tem.
A primeira duna é árida e semelhante à última.
Nada sei de mim. Mas sei quem tu és.
És a única pergunta que não formulei.
Será que ao menos sabes que eu não sei?

[Manuel Cintra]

O MEDO

Posso me apaixonar por você? Ou será que daqui a um ano você vai ser acometido por uma vontade incontrolável de ir para a Índia sozinho?  Posso me apaixonar por você? Ou será que você vai me contar, de um jeito cortante, que não teria filhos comigo? Ou, pior, que na verdade não vai mais se separar pra ficar comigo… Quebrar a cara faz parte, mas depois de um tempo… dá uma preguiça. Dá vontade de antever os pormenores, acelerar a história um tempinho, só pra saber (assim, de leve, como quem não quer nada) se vale a pena regar aquele friozinho na barriga que começa a brotar ali. Depois de alguns calos adquiridos se jogando na vida (sem medo), o medo começa a fazer parte. Tão inevitável como as rugas e os fios brancos. Mandou flores? Disse que ama? Xiiiiii… A voz da sua avó se faz presente: “Quando a esmola é demais, o santo desconfia”. E você começa a pensar que algo de podre deve, em breve, aparecer. Ou, pior, desaparecer. Como aquele ser doce que faz um sexo de arrepiar a espinha, manda flores e adora a ideia de ir junto com você para o Peru, mas, inexplicavelmente, vai dar um rolê ali em Springfield e… nunca mais volta, nunca mais responde uma mensagem ou passa para buscar o iPod que ficou no criado mudo do lado de lá da cama. Medo.
Alguém avisa para a turma da família Homer Simpson que mensagens foram feitas para serem respondidas, verdades foram feitas para serem ditas e juras (puts), juras foram feitas para serem cumpridas? Todo e qualquer sujeito que desrespeite essas regras deve saber que está, consciente ou inconscientemente, matando uma mulher por aí. Ou, no mínimo, prejudicando um futuro amor que poderia ser lindo, poderia ser inteiro, mas não virou porque a moça amedrontada colocou o rapaz na categoria Homer e chutou ele para Springfield sem perceber que ele não era dali.
Lia Bock, em O medo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

As borboletas

Photobucket
Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.
Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Assim assim

Sobre as pessoas e a vida.

 
Ao sentir saudades do que ainda não conheceu, ela se deu conta de quão vago anda o mundo, as pessoas andam mascaradas, umas com medo da verdade, outras por desvaneios que a vida lhe causou, mas ambas sentem uma inexplicavel vontade de serem elas mesmas, descobriu também que não é muito dificil saber que não se existe metade da laranja, e sim uma afinidade e alegria mútua por encontrar pessoas que pensam de uma forma complexa, e sem opiniões formadas, ao tentar desvendar um pouco do enigma que a tormentava, colocou a xícara de café na varanda, esticou-se na rede e abriu um livro que dava continuidade a leitura da noite anterior, e ficou ali por alguns minutos pensando se vale a pena ser mascarada em um baile de fantasias que é a vida, ou não por mascara nenhuma e seguir em frente em sua festa particular ... Apenas o luar, uma rede e uma xícara de café ...


[Monize Veríssimo]

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A arte de esconder cores e adestrar asas...

Juntei as cores, uma a uma, roubadas de sonhos infantis.
Pra que os outros não teimassem em roubá-las de seu destinatário, escondi sobre uma densa camada de açúcar. Chamei de jujubas.
Pra que elas ficassem bem acomodadas, tirei um vício do bolso e pintei com cheiro de bom dia. Sentaram umas sobre as outras em uma aquarela doce.
Prometi dar um teto estrelado, pras cores não ficarem deprimidas no claustro provisório. Peguei um par de asas novinhas e fui catar estrelas. Queimei as pontas dos dedos, mas nada que um ou dois sopros sorridentes não curem.
O toque final seria uma película transparente de intenções e uma fita bonita.
Estava pronto o presente.
Estava treinando uma nova mágica: fazer rodas gigantes não parecerem tão assustadoras, e devolver sonhos à alguém, pra que lembrasse como voar.







Régis Falcão

terça-feira, 26 de julho de 2011

Defeito 10: cedotardar

Tenho no peito tanto medo,
É cedo
Minha mocidade arde,
É tarde
Se tens bom-senso ou juízo,
Eu piso
Se a sensatez você prefere,
Me fere
Vem aplacar esta loucura,
Ou cura
Faz deste momento terno,
Eterno
Quando o destino for tristonho,
Um sonho
Quando a sorte for madrasta,
Afasta
Não, não é isto que eu sinto,
Eu minto
Acende essa loucura
Sem cura
Me arrebata com um gesto
Do resto
Não fale, amor, não argumente
Mente
Seja do peito que me dói,
Herói
Se o seu olhar você me nega
Me cega
Deixa que eu aja como louco,
Que é pouco
No mais horroroso castigo,
Te sigo


Composição: Moacir Albuquerque e Tom Zé
Para ouvir :voz de Thais Gulin

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Bem me Quero

Mal me quer, Bem me Quero, Mal me quer, Bem me Quero, Mal me quer, Bem me Quero, Mal me quer, Bem me Quero, Mal me quer, Bem me Quero, Mal me quer, Bem me Quero, Mal me quer, Bem me Quero, Mal me quer, Bem me Quero

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O que tu és.

 
 
"Tu és uma gaveta, és a gaveta no quarto onde te guardo. Eu sou o arrependimento, a mágoa, a garganta com espinhos, tu és uma gaveta. Eu sou mil presentes, mil e uma memórias de boas acções. Tu és uma gaveta. Tudo o que me deste cabe numa gaveta e não me deixou esquecer. Tudo o que te dei assalta-te os sentidos e ainda assim não te lembras. O amor dura enquanto a memória arde."

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Diagnóstico



O amor é uma das doenças mais bravas e contagiosas. Qualquer um reconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos, despertos noite após noite pelos abraços, ou pela ausência de abraços, e padecemos febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidez. O amor pode ser provocado deixando cair um punhadinho de pó de me ame, como por descuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas não pode impedir. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente de alho, que nesse caso não serve para nada. O amor e surdo frente ao Verbo divino e ao esconjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem poção capaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveis beberagens com garantia e tudo.
Eduardo Galeano

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Que eu seja "o seu lugar no mundo"


Que meus braços sejam berço para o seu cansaço,
meus beijos coragem para suas batalhas,
meus olhos certeza da sua chegada.

Renata Fagundes

Feitiço do tempo

Com o tempo a gente aprende que nosso melhor amigo somos nós mesmos. Percebemos como é fácil focar naquilo e naqueles que realmente acrescentam. Trilhamos naturalmente o caminho da dissipação da nossa raiva e da nossa mágoa. Mais do que isso, sentimos na pele que o melhor remédio para a irritação e o mau-humor é dançar ao som de um bom samba-canção ou cantar bem alto uma música no Karaokê. Se errarmos a nota, ou tropeçarmos nos passos, não tem problema: teremos o dia seguinte para treinarmos novamente. Afinal, o tempo do prazer não urge, caminha devagar, no relógio das nossas emoções mais gentis.

Depois de um tempo, é nítido que bloquear aquele carinha escroto no MSN não é mais uma necessidade da sua decepção. Aliás, até aprendemos que o mundo virtual se derrete no compasso do botão Power e que portanto...não, não vale a pena. Você troca os minutos que gastava futucando o Orkut daquela amiga que você amava, mas que não te ama mais, pelos sites que tragam alguma boa informação para a sua carreira ou para a sua saúde. Ou então, você até descobre, ou redescobre, um livro. Um bom livro. E uma tarde sozinha, na praia, no shopping, ou numa livraria, lava a sua alma mais do qualquer show do Monobloco.

E aí, sabe aquele carinha que prefere pagode enquanto você curte rock e Chico Buarque, e que quis te levar para um Motel logo no primeiro encontro? Então, "não"...é isso mesmo, ele não combina com você. E a grande vantagem é que você perceberá isso e cairá fora sem se sentir culpada ou achando que vai morrer solteira. E até aquele rapaz bem gostosinho, super bom de cama, mas que não te dava o menor valor fora das quatro paredes, deixa de ser tão encantador assim.

A gente aprende a pensar com o cérebro de cima e não com o calor que corre entre as pernas da solidão. Talvez, pode até ser realmente que você passe o restante da vida solteira, mas a máxima "antes só do que mal acompanhada" será um lema sinceramente verdadeiro no seu estilo. Além disso, é impossível ser feliz sozinho porque simplesmente nunca estamos sozinhos, a não ser quando nos perdemos de nós mesmos.

Entre outras coisas, a melhor parte de se entregar à evolução do tempo é sacar que aprendemos a amar melhor as pessoas, amar com admiração, mas sem pieguices ou idolatria. Sacamos também que o que pensam sobre você é problema de quem pensa e que a nossa única obrigação é viverde acord o com a nossa verdade, com a humildade de entendermos que estaremos sempre no tempo do aprendizado.

Um dia, acordamos e entendemos que o nosso mundo é aquilo que chamamos de lar, e não o que entendemos como rua. E que o nosso lar é lugar onde o afeto da gente repousa. Aquele lugar onde suas energias são recarregadas apenas pelo fato de os seus pais te darem um abraço, seus amigos um carinho e seus sobrinhos uma gargalhada bem alta. Pode ser também aquele singelo barraco onde encontramos uma sopa bem temperadinha, água e almofadas confortáveis.

Com muita concentração interna, começamos a perceber também a unidade que existe em nós. Deixamos de ser um produto para a vitrine dos olhos dos outros. E ai, meu amigo...você saberá se vestir melhor para o seu biotipo e não para a MODA. A sua relação com o espelho será mais harmônica e gostar das suas gordurinhas a mais ou da sua perna fina será tão natural quanto o ar que respiramos. Deixe para os pirralhos mentais o ato de precisar pagar de gatinha ou gatinho, na esteira da auto-afirmação.

E as horas passarão sem o drama das urgências ansiosas. E ignorar quem te suga a energia não lhe dará nenhum trabalho. Os afetos que chegam e os afetos saem levam um pouco de ti, mas te deixam mais experiência, mais amor próprio, mais vida, mais inteira. Te deixam mais em si. E com tanta coisa no mundo que possa te estressar, você saberá priorizar aquilo que te alegra, que te provoca gozos de vida.

A sua educação não dependerá de ninguém, mas a sua paciência será o ingrediente secreto das especiarias dedicadas apenas aos merecem. Os outros...ah, estes você ignora. Naquela sutileza que só quem aprendeu a dar tapas na cara com luvas de pelica sabe.

Fica fácil, fácil como dois e dois são cinco. Pequenas lições que nos mostram que até quando dá errado, dá certo. Simplesmente, porque a vida não tem lógica alguma e a nossa única obrigação é entrar na roda e viver. Um foco não tão desfocado, uma euforia mais calma e decepções mais efêmeras. Eu não marquei na agenda os meus dias, apenas senti que chegaram. E neste dia, ou em todos os dias nos quais você perceber isso, finalmente saberá que a melhor coisa do mundo é quando o passar dos anos vem acompanhado da chegada daquele ingrediente maravilhoso chamado maturidade.

FONTE 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Reforma.

Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tinta, tijolo
comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.
Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Pitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões
Vassouras, rodos, águas, flanelas e cercas
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate
O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.
(Elisa Lucinda)

Capricorniana

De 22 de dezembro a 20 de janeiro temos o sol na constelação de Capricórnio. Para os capricornianos natos o tema da responsabilidade, da subsistência material e da ascensão social é importante por toda a vida. Esse é sem dúvida um signo consciente dos limites que a realidade física nos impõe. Seu realismo chega a ser desconcertante…
O destino, a elevação e a carreira, aliados às construções sólidas povoam seu mundo interno e essa incansável e preocupada criatura trabalha até mesmo dormindo. Parece de fato que a árdua tarefa de estruturar, superando as limitações impostas pela realidade, foi inventada por algum capricorniano sem assunto. Até na hora de se soltar e curtir a vida, o cheiro da autoridade saturnina logo se faz sentir, e o sujeito vai escolher o roteiro, alugar a casa, encher a geladeira, vigiar as despesas (as dele e as suas) e por ai vai…
Solícito e competente, sempre com o pezinho na realidade. Se você olhar bem fundo naqueles olhinhos verá o velho senhor dos anéis, Saturno, impondo formas perfeitas, consciente dos esforços, sacrifícios e dissabores que isso exige. Mas também são sensíveis e geralmente muito tímidos. Eu aprecio sinceramente a tenacidade do signo, é admirável como são constantes e determinados, enquanto descansa, carrega pedra!
Estabilidade, confiança, tradição e bons lucros é a alma do negócio, se é que vocês me entendem. Se você sabe apreciar o valor do compromisso, do mérito e do carisma dele, terá um parceiro para toda a vida que o apoia nos momentos difíceis e se sensibiliza de verdade se você for honesto em colocar suas limitações.
Saiba apreciar o seu charme e bom gosto, sua finura e delicadeza e tudo vai ficar bem. Via Capricórnio! Boa saúde, vida longa e dinheiro na conta!
(Tirado daqui)

domingo, 3 de julho de 2011

O PASSADO

"Porque preso no passado se morre a cada dia. E quanto a mim, eu prefiro viver. Ainda".
(Do filme: Cabo do Medo - direção de David Lynch)

Eu acredito em profundidades

Eu nunca fui uma moça bem-comportada.
Pudera, nunca tive vocação pra alegria tímida,
pra paixão sem orgasmos múltiplos
ou pro amor mal resolvido sem soluços
Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo.
Não estou aqui pra que gostem de mim.
Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.
E pra seduzir somente o que me acrescenta.
Adoro a poesia e gosto de descascá-la até a fratura exposta da palavra.
A palavra é meu inferno e minha paz.
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que me deixa exausta.
Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo.
Sei chorar toda encolhida abraçando as pernas.
Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa.
Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar...
Eu acredito é em suspiros,
mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis,
em alegrias explosivas,
em olhares faiscantes,
em sorrisos com os olhos,
em abraços que trazem pra vida da gente.
Acredito em coisas sinceramente compartilhadas.
Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma,
no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo.
Eu acredito em profundidades..."

sexta-feira, 1 de julho de 2011

E se fossemos além, só um passo à frente?
Se fossemos mais fundo, somente um pouco a mais do que já fomos?
E se olhássemos além do que vemos, apenas alguns segundos, olhos nos olhos daqueles olhos que desviamos?

Se abandonássemos o caminho dos pés, que por vezes nos fazem tropeçar?
E se déssemos ouvidos aos lugares comuns ouvidos na infância?
E se ouvíssemos um segundo a mais, antes de formar a cega resposta que mais tarde será a causa da dor?

E se ao invés do primeiro, nos permitíssemos chegar em segundo, terceiro ou outro lugar em qualquer lugar que fosse?
Se o que valesse fosse apenas chegar, e chegando festejar, e festejando sorrir, e sorrindo abraçar quem nunca desejamos.

E se mudando de caminho, nos encontrássemos a nos mesmos, á margem, com todos os velhos sonhos, músicas, e amigos?
De que tamanho seria a dor se percebêssemos que estamos longe do que fomos?
Que nossos pés nos enganaram e nossos olhos mentiram?

Se repentinamente, buscássemos as diferenças?
Se os dentes afiados se transformassem em beijos de boas vindas?
Se escolhêssemos aprender sem dor?
Ainda seriamos os mesmos.

Adriel Gennaro

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Cheguei, sem querer, aonde meu coração queria chegar

"Não sabia que era precisamente esse fracasso que me levaria ao lugar que desejava. As correntes do rio profundo foram mais generosas que o meu remar contra elas. Não cheguei aonde planejei ir. Cheguei, sem querer, aonde meu coração queria chegar, sem que eu o soubesse."
Rubem Alves

terça-feira, 21 de junho de 2011

Cartas de amor

Cartas de amor são uma mídia obsoleta.
Talvez conheça poucas pessoas. ou talvez as pessoas que eu conheça não sejam tão amorosas assim. mas não conheço quem, hoje em dia, ainda escreva cartas de amor. a querência pelo instantâneo e a efemeridade dos proto-relacionamentos  substituiram as correspondências que demoram a chegar e precisam de interlocutores vestidos de amarelo e bolsa tira-colo. as cartas de amor não são fragmentos de um discurso amoroso dos nossos tempos.
Carregam uma carga diferente dos e-mails apressados com erros de digitação ou dos sms’s com abreviaturas bizarras. cartas são pílulas de amor táteis, é sentimento guardável. escrever exige tempo dedicado, rascunhos e aquele último suspiro indagando: “será que eu mando?”.
Confessamos coisas que não temos coragem de falar ou que se faladas talvez pareçam diabéticas demais. e mesmo se forem melosas e piegas, não vemos a reação do destinatário. é proteção. por isso nas cartas nos entregamos doses extras de sinceridade. escrever cartas a mão é dar caligrafia própria ao sentimento.
Correspondentes. as cartas de amor são sentimentos portáteis.

Te dou os meus sonhos

Sonhos são projeções do presente para doces futuros. são lugares nas histórias e músicas favoritas onde imaginamos estar.
te dou os meus sonhos para juntar com os seus. tenho coleções de lindos sonhos, diferentes cores para pôr-do-sol, mapas para se perder em países distantes, perfeitas tempestades para fazer voar monotonias e uma caixa cheia de brisa para quando estiver muito calor.
Dos seus sonhos eu não sei muita coisa. mas da minha parte é isso que posso oferecer. pedacinhos de caos que surgem e voam da minha mente enquanto estou dormindo, enquanto estou ocioso ou preso em caóticos trânsitos urbanos mas pensando  em lugares onde nossa nuvem polvilhada em canela e açúcar deseja estar.

As borboletas

Eu cuidei do jardim e elas vieram.

domingo, 19 de junho de 2011

Das insignificâncias

"A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado e chorei. Sou fraco para elogios."
- Manoel de Barros -

Previsão climática



ÁGUAS
CALMAS
EM MEU
MAR
ÍNTIMO.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Apelo:

Rapte-me, camaleoa.

Quando você acha...

...que já sabe todas as respostas, vem um espírito de porco tentando mudar todas as peguntas.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Não há dor infinita.

foto: Antonio Paim



“(...) Pode me tirar a compreensão, o perdão, os ossos contados como dias nas paredes da carne. (...) Pode me tirar o egoísmo e a paixão, a cultura que adquiri às pressas, a serenidade para julgar, a severidade do combate. Podes me tirar as metáforas, a fuga, minha saída do sangue. (...) Pode me tirar os excessos do mínimo, o idioma, meu receio de ficar sozinho. (...) Pode me tirar o colo, a sesta, a audição das escadas. Podes me tirar o desejo e pôr a inquietação em seu lugar. (...) Pode me tirar a liberdade que confundi com justiça porque nenhuma das duas se conheceu a tempo. (...) Não há castigo infinito. Não há dor infinita. Um dia a gente termina para começar, começa para terminar, refaz o percurso como se nada tivesse acontecido antes. Deixe-me apenas uma cadeira de palha, amarela, para olhar com piedade o que fui e me deslumbrar com as ruínas."

(Carpinejar)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Em ressonância profunda

" Eu soube naquele momento que não tinha necessidade de nenhum prazo para refletir; que teria saudades para sempre se a deixasse partir. Você foi a primeira mulher que consegui amar de corpo e alma, com quem eu me sentia em ressonância profunda; meu primeiro amor verdadeiro, para dizer tudo. Se eu fosse incapaz de amá-la de verdade, nunca poderia amar ninguém. Encontri palavras que nunca soubera pronunciar; palavras para lhe dizer que eu queria que permanecêssemos juntos para sempre."
(Carta a D., História de um amor, André Gorz)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O próprio é o maior.

Eu já disse que me amo hoje?????



quarta-feira, 27 de abril de 2011

A única prova de amor

- Este texto poderia se chamar "Como entender uma mulher?". Mas ao final da leitura você terá descoberto que não é preciso uma resposta para esta pergunta.
"O amor não é prosa e nem poesia. Aquelas três palavras não me servem. São sonetos sem pele, versos que não ressoam, metáforas que não suam, frases que não cheiram. "Eu te amo" não diz nada, entende? Não escreva o que sentiria se acordasse comigo. Acorde comigo. Não imagine meu cheiro. Me cheire. Não fantasie meus gemidos. Me faça gemer. O amor só existe enquanto amar. Ação. Calor. Verbo. Presença. Milímetros. Hálito.
A antologia poética do Cummings nunca engravidou ninguém. Não é o refrão de "Sexual Healing" ou qualquer solo de guitarra que arrepia cada orifício das minhas costas ou empina os pelos da panturrilha ou me umedece o centrípeto das pernas. Não me elogie a quilômetros ou horas de mim, não digite meu nome, não me telefone no meio da noite, não me convide por webcam, não quero um e-mail seu. As frases, as confusões, as lágrimas são minhas. Você tem o corpo.

Eu transito pelo mundo. Pego carona em carros, desvio de pessoas, contemplo edifícios, sento em cafés, folheio revistas, acho rapazes bonitos, navego por horas na internet, leio mensagens em PowerPoint, troco fofocas. Meu físico ocupa percursos, espaços, tempos e ainda assim meus fragmentos voam pelo chão. Eu não sou uma flor, um tesouro, a aurora boreal. Sou só uma mulher, me trate como tal. Fui feita pra ser tocada, não compreendida, decifrada, poetizada.

Não sou tempestade. Sou abraço. Não sou química. Sou física. Não sou vento. Sou movimento. Não sou música. Sou reboladas. Meu corpo não é o paraíso, é um lugar. Faça de mim o seu lugar. More em mim ou seja meu vizinho. Caminhe com o áspero da sua língua em todas as minhas texturas, meus calcanhares, minhas coxas, minhas axilas, minhas nádegas, entre os dedos na minha mão, atrás da orelha, no couro cabeludo, no lábio inferior, embaixo dos seios.

Eu não preciso de um bilhete, eu preciso de uma massagem na cintura, nos pés, na barriga. Eu não quero flores vermelhas, quero você dizendo baixinho o quanto sou gostosa. Não pense em mim. Me coma. Não me pondere. Me atravesse. Não me console. Me acarinhe. Não me deseje. Me deslize. Não me descreva. Me aproveite. Não me leia. Me dance. Não me pergunte. Me invada. Não me solucione. Me enxugue. Não me controle. Me conduza.

Puxe meu quadril, morda meu queixo, bagunce meus cabelos, chupe meus joelhos, esfregue seu peito em minhas costas, lamba a planta do meu pé, toque minha lombar, cheire minha virilha, aperte minhas vértebras, me dê a mão, respire perto de mim, me faça rir, uma omelete, um cafuné no sofá. Não sou uma floresta intocada. Sou uma mulher novamente virgem minutos depois que sua mão me abandona. Deguste meus cheiros, fareje meus gostos, beije minhas cores.
Não ache que consegue me abrir, me comover, me prender com apenas três palavras. Não quero ler ou saber que você me ama. Quero sentir isso. Quero tomar banho com você, ser olhada com ternura, que você se confesse entre meu pescoço e meus seios. Peça meu colo, abra minhas pernas, penetre seu carinho, me cante, se importe comigo, ejacule seu querer sobre mim, escute meus medos, enrole minha franja, persiga meu gozar.
Não perca a chance, não deixe pro dia seguinte. Não existo amanhã. Eu só existo dentro dos seus olhos, da sua boca, dos seus braços, na ponta dos seus dedos. Esqueça tudo que leu e ouviu sobre mim. O tempo que demora pra me fazer um texto é o suficiente pra derramá-lo sobre mim. Não me descreva, não me entenda, não diga me amar. Me ame apenas. O corpo é a única prova de amor." 
 (Gabito Nunes, sensacional*)

Mais uma vez encontro as palavras perfeitas. “Talvez Clarice estivesse certa: ler é, provavelmente, a maneira mais intensa de escrever.”

terça-feira, 26 de abril de 2011

Não dá vontade...


...DE SAIR VOANDO POR AÍ????

Prece pra quem se ama

Desejo que a sua vida inteira seja abençoada, cada pequenino trecho dela, em toda a sua extensão. Que cada bênção abrace também as pessoas que ama e seja tão vasta que leve abraço a outros tantos seres, sobretudo àqueles que mais sofrem, seja lá por que sofrem. Desejo que os nós que apertam o seu coração sejam gentilmente desatados e que os sentimentos que os formaram se transformem na abertura capaz de criar belos laços de afeto. Desejo que o seu melhor sorriso, esse aí tão lindo, aconteça incontáveis vezes pelo caminho. Que cada um deles crie mais espaço em você. Que cada um deles cure um pouco mais o que ainda lhe dói. Que cada um deles cante uma luz que, mesmo que ninguém perceba, amacie um bocadinho as durezas do mundo.

Desejo que volte para o seu mar quantas vezes forem necessárias até encontrar o seu tesouro. Que quando encontrá-lo, não seja avarento. Que descubra maneiras para compartilhar a sua felicidade, o jeito mais gostoso para se expandir a riqueza. Desejo que quando os ventos da mudança ventarem mais forte, e sentir medo de ser carregado junto com tudo o que parecerem arrastar, você já conheça o lugar onde nada pode arrastá-lo. Que já saiba maneiras de respirar mais macio, quando as circunstâncias lhe encurtarem o fôlego. Que, com o passar do tempo, a sua alma se torne cada vez mais maleável, mas que seja firme o bastante para nunca desistir de você.

Desejo que tudo o que mais lhe importa floresça. Que cada florescimento seja tão risonho e amoroso que atraia os pássaros com o seu canto, as borboletas com as suas cores, o toque do sol com seu calor mais terno, e a chuva que derrama de nuvens infladas de paz. Desejo que, mais vezes, além de molhar só os pés, você possa entrar na praia da poesia da vida com o coração inteiro e brincar com a ideia que cada onda diz. Que, ao experimentar um caixote ou outro, não se arrependa por ter entrado na água, nem desista de brincar. Todo mundo experimenta um caixote ou outro, às vezes um monte deles, quando se arrisca a viver. O outro jeito é estar morto. O outro jeito é não sentir.

Desejo que não tenha tanta pressa que esqueça de colher estrelas com os olhos, nas noites em que o céu vira jardim, e levar para plantar no seu coração as mudas daquelas mais luzentes. Que tenha sabedoria para encontrar descanso e alimento nas coisas mais simples da vida. Que a cada manhã a sua coragem acorde bem juntinho de você, sorria pra você, e o convide para viverem uma história toda nova, apesar do cenário aparentemente costumeiro. Que tenha saúde no corpo, saúde na alma, saúde à beça.

Desejo que encontre maneiras para ser feliz no intervalo entre o instante em que cada dia acorda e o instante em que ele se deita pra dormir, porque a verdade é que a gente não sabe se tem outro dia. Que quanto mais passar a sua alma a limpo, mais descubra, mais desnude, mais partilhe, com medo cada vez menor, a beleza que desde sempre você é. Que se sinta livre e louco o bastante pra deixar a sua essência florir.

Não importa quanto tempo passe, não importa onde eu esteja, não importa onde esteja você, abra os olhos pra dentro e ouça: o meu coração estará dizendo esta mesma prece de amor para o seu. Amor incondicional, exatamente como neste instante. Não importa o quanto a gente mude, o quanto a distância aparente nos afastar, isto que sinto por você, eu sei, não muda nunca mais.
 
(Ana Jácomo, autora preferida dos últimos dias)
Se existe um substituto para o amor, é a memória. 

(Joseph Brodsky)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O fogo que me consumia toda

" De minha parte, eu estava enlevada, confusa, fora de mim. Sentimentos tão novos eram demais para mim; meus sentidos acesos e alarmados encontravam-se num tumulto que me privava de qualquer liberdade de pensamento; lágrimas de prazer saltavam de meus olhos e, de certa forma, aplacavam o fogo que me consumia toda." 

(John Cleland, Fanny Hill)

domingo, 24 de abril de 2011

já não me sinto só com o Universo ao meu redor



Procuro nas coisas vagas ciência
Eu movo dezenas de músculos para sorrir


Vem pra esse mundo, Deus quer nascer

Há algo invisível e encantado entre eu e você
E a alma aproveita pra ser a matéria e viver

Fotos do final de semana prolongado e essencial....

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Só uma certeza...

"Luz do sol não há de me faltar".

Tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma?

"(...)Claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodka, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e lexotan,depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a ban-chá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina ou ligo para o CVV às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas do tipo preciso-tanto-de-uma-razão-para-viver-e-sei-que-esta-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá, até o sol pintar atrás daqueles edifícios, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma?”

(Caio Fernando Abreu, Fragmentos)

Me doíam essas esperas

“Então eu te disse que o que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra e às vezes nem a pessoa exatas. E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse.”


(Caio Fernando Abreu)