Falámos do sorrir do rir e da gargalhada. Falámos de como os olhos sorriem e de não conseguir chorar. Falámos de chorar, de chorar muito, de não conseguir parar de chorar. Falámos de conseguir falar e de não conseguir falar. Falámos de não conseguir dizer o que os olhos dizem, de não conseguir, de querer e não pronunciar. Falámos de querer calar e não conseguir quando as palavras se soltam em cascata. Falámos da pele e do toque que diz tudo sobre o que o coração sente. Falámos do coração que de tão grande salta da boca e falámos das noites passadas a ver as estrelas e o mar. Falámos das noites não dormidas, das noites em que os corpos se unem e os braços e as pernas se colam e os peitos se confundem e o suor se desalinha. Falámos dos gemidos que se gravam na nossa memória e das tatuagens que ficam para quando só restar um rosto tremido em frente a um espelho. Falámos do desejo e da vontade louca de parar o momento. Aquele momento. Falámos dos caminhos que se cruzam e dos caminhos que se deixam de caminhar.
E parámos de falar.
Vertemos lágrimas que se desenharam nas veias dos braços. Lágrimas que nos disseram que também somos felizes quando choramos muito. E chorámos muito e rimos ao mesmo tempo. Percebemos que não conseguimos estar muito tempo a respirar outro ar que não o nosso. Respirámos o nosso ar e faltou-nos o ar.
Faltou o ar.
E voltámos a falar. Gritámos até. Falámos de todos os frutos, das árvores e dos seus longos braços e das estradas por caiar. Falámos das paredes que fotografámos e do que está escrito nelas. Falámos de asas. Falámos de voar. E voámos.
Falámos de amor.
in «Penitências de um Ser no Anonimato» de «Francisco»
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