quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Já que sou, o jeito é ser.*

Sou a que chora pelos motivos que ninguém vê
Aquela que tem uns medos que disfarça
Aquela que acredita quando não devia acreditar
Alguém que fala em demasia e não se entende
A que dança sabendo dançar e canta sem saber cantar
Que devia ir ao analista mas se deu alta
Imagina muito e sofre por antecedência
Conclui sem ouvir
E se esmera pra ser eloqüente
È afobada, ansiosa, corre e não sabe esperar
Acha que sabe muito da vida e não pensa na morte
Não sabe como vai morrer e nem quer saber
Aliás, espera não morrer
E nem acredita em milagres
Gosta de pastel e não ama chocolate
Cabelos escorridos desejando ser cacheada(mentira, o contrário)
Atrevida, briguenta,manteiga derretida, comovida sempre
Rosto sem assimetria, vesguice sutil, pés feios
Deseja um mundo paralelo no fundo do armário da biblioteca
Achava que podia ser Alice e hoje ta mais para Chapeleiro Maluco
Brinca com fogo e blefa no jogo
Foi uma criança feliz que brincava sozinha
Foi sempre forte e adulta porque não tinha escolha
Responsável, conselheira, equilibrada por necessidade
E dentro dela todas as cores do mundo
Vive intensamente, sem importar no que dê
E dá com os burros n’água (como dá)
Quando olho, vejo um gramado verde, um céu azul
Uma imensidão e uma criança fazendo suas escolhas
Essa sou eu. 

texto: Anna Duarte
Título: Clarice Lispector

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sobre o que não fomos, por Karla Tabalipa . (Ou Desamando)

 
 
Eu ia ser tão sua, que o mundo inteiro ia me olhar e enxergar você.
Ia me jogar no seu colo quando você chegasse, e passar o dia assim, morando no seu abraço.
Ia dedicar a você, banhos e poesias. Te beijar como se fosse a última vez. Te amar a noite toda, o dia inteiro, o resto da vida.
Não me importaria em ser clichê, piegas, melosa demais, se fosse só sua e você fosse só meu.
Ia lembrar de você escutando as músicas mais lindas do mundo, e te ligar de madrugada, só pra lembrar o quanto você é importante pra mim.
Ia ser toda sua. De corpo e coração. Ia encher sua carteira de bilhetes, lembrando o quanto você e lindo, e melhor do que todos os outros caras do planeta inteirinho.
Ia mandar mensagem no meio do dia pra não te deixar esquecer, que não esqueço de você.
Ia te prender com pernas, letras e coração. E ainda sim, te deixar ir, só pra te ver escolhendo ficar.
Ia ser sua paz e seu desassossego. Sua menina e sua mulher.
E sua, sempre sua, só sua. Tão sua, que ninguém ousaria tentar me tirar de você. Tão sua, que você não teria o menor medo de me perder.
Eu teria sido sua, se não fosse o medo de um dia você deixar de ser meu. 



Era bom.....

"Há alguns dias, Deus - ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus - enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer - eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom."

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Todos os sentimentos do mundo

 
delicada, carrega uma vontade enorme nas mãos, e todos os sentimentos do mundo. determinação e curiosidade nunca faltam, nem mesmo quando a preguiça insiste em ficar. leva o arco-íris em cada fio de cabelo e nos olhos, tudo o que cintilar. tem medo de reviravoltas muito bruscas, mas coragem suficiente para enfrentá-las. gosta de vermelho, roxo, cores, rimas, brisa fresca, sombra, música, violão, flores, arte, cinema, abraço, cheiros e tudo mais que provoca arrepios. procura sempre pela próxima poesia que a espera na esquina. e, quando encontra com si mesma, escreve. e como escreve. se entrega nas menores coisas, aprendeu que é assim que se descobre os pequenos prazeres. se preocupa um tanto com o futuro, mas não esquece que ele depende do agora. fica por demais feliz quando consegue levar alegria a alguém. cultiva jardins secretos e colhe bem-me-quer. algumas vezes, tem nuvens demais nos pés. gosta de descansar do chão. é muito mais chegadas que partidas, muito mais lua que sol. tem dias que amanhece urgências e inaugura noites. se equilibra na linha tênue, sem perder o compasso. leva uma certeza no bolso: guardar o tempo, ajuda a traçar o contorno da vida.

[Renata Carneiro, praticamente falando por mim]

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O contrário de dizer adeus pode se chamar amor. Ou de como me tornei leve.


Aproveito sua ausência pra matar as saudades de mim. Nem me lembrava do quanto posso ser doce, de como é gostoso acarinhar minhas carências e fazer minhas vontades.
Acho até que o destino cansou de me contrariar.
Ok, você sabe que não acredito em destino... Mas se acreditasse, escreveria um bilhetinho agradecendo a trégua dos últimos dias.
‘Senhor Destino, valeu o cessar fogo. Vamos poupar artilharia e promover a paz.’
Não que as coisas estejam em ritmo de final de novela. Ainda tem meia dúzia de personagens me incomodando e alguns arremates que preciso ajustar pra ficar satisfeita com o enredo.
Meu cabelo podia ser mais liso, meus textos mais engajados e você mais receptivo. Mas não tô reclamando, não. Ao contrário, ando flertando com as minhas qualidades e gostando mais de mim.
A ansiedade continua aqui, só que mais comportada. Vira e mexe me cutuca e ameaça birra. Aí dou bronca e ela senta cabisbaixa, com as perninhas balançando no ar.
Hoje de manhã acordei com o passado chutando a porta. Ameacei chorar. Pensei em voltar atrás, jogar pro alto a evolução e a placidez dos últimos dias. Corri pro espelho e ele me confidenciou que sou mais bonita sorrindo. Resolvido: sorri ao invés de berrar e escapei de ouvir ecos dos meus gritos.
Viu? Ainda sei me virar sozinha, embora você me vire do avesso como ninguém. Vai ver é esse o problema: não quero viver do avesso.
Dei carinho, apoio e espaço. Mas você é exageradamente adepto da calma. Corro o risco de receber sementes ao invés de flores.
Quer saber? Me importo, mas não me inflamo. Toma, um sorriso pra você também. Tô muito mais preocupada comigo, em manter os bons ventos que a vida anda soprando.
O que uns chamam de egoísmo, eu chamo de paz.