terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Solombra

Há mil rostos na terra: e agora não consigo
recordar um sequer. Onde estás? inventei-te?
Só vejo o que não vejo e que não sei se existe.
Esperamos assim.Por esperança, a espera
vai-se tornando sonho afável; mas descubro
no olhar que te procura uma névoa de orvalho.
Qualquer palavra que te diga é sem sentido.
Eu estou sonhando, eu nada escuto, eu nada alcanço.
Quem me vê não me vê, que estou fora do mundo.
Lá, constante presença em memória guardada
percebo a tua essência - e não sei nem teu nome.
E à tentação de tantas máscaras felizes
se opõe meu leal, nítido sangue.


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Quero uma solidão, quero um silêncio,
uma noite de abismo e a alma inconsútil,
para esquecer que vivo - libertar-me
das paredes, de tudo que aprisiona;
atravessar demoras, vencer tempos
pululantes de enredos e tropeços,
quebrar limites, extinguir murmúrios,
deixar cair as frívolas colunas
de alegorias vagamente erguidas.
Ser tua sombra, tua sombra, apenas,
e estar vendo e sonhando à tua sombra
a existência do amor ressuscitada.
Falar contigo pelo deserto.

Um comentário:

Luciano disse...

Gostei das palavras e das imagens que elas sugerem.
Sempre bom passar por aqui.
Bjs, menina.