Eu não sei por que, afinal, eu ainda te dou uma segunda chance. E uma 
terceira, e uma quarta, e incontáveis chances, sempre prometendo a mim 
mesma que sim, impreterivelmente: esta será a última. Ridículo. Será 
este meu otimismo incorrigível, ou será mesmo apenas burrice, estupidez 
pura e simples? – talvez seja apenas uma questão de ponto de vista. 
Quando paro para pensar a este respeito, não me custa muito perceber o 
absurdo da situação: um círculo vicioso que não se encerra nunca, ao 
contrário, repete-se patética e incansavelmente sem que os envolvidos se
 dêem conta da absoluta inutilidade desta repetição. Sim, eu sou um 
deles. Sim, analisando a situação como quem vê de fora, com um mínimo de
 isenção e racionalidade, tenho total consciência de seu absurdo. Sim, 
rio de mim mesma, porque a dor é grande e rir de si mesmo é sempre uma 
boa providência, desvia o foco, ajuda a atentar para outra coisa e quase
 faz esquecer a ferida e a tristeza. E sim, ao final de cada volta deste
 círculo estúpido, eu me recolho conformada, cordata feito uma boa 
menina, e aceito fazer de conta mais uma vez que agora sim, que agora 
tomaremos um caminho diferente, que afinal iremos adiante, seremos 
outros. E assim recomeço a desenhar o círculo, com as mãos trêmulas e o 
coração dolorido, mas sem um pingo de noção da realidade. Sem coragem 
também. Até quando, meu deus, até quando?
Completamente apaixonada pelo "Bicho Solto". Leiam, vale muito!


