Você me olha como se eu fosse a mulher mais linda do mundo. E, porque
você me olha, eu sou. Nunca ninguém me olhou como você, eu digo. Você é
que não percebe como os homens te olham, você responde. Minha primeira
reação é refutar tua hipótese, mas tenho que admitir que ela faz
sentido. Não reparo, mesmo, os olhares do outro. Escondo-me, arredia,
temerosa. Medo de quê? Do que eu provoco no outro ou do que posso
provocar em mim mesma? Ambos, talvez. Medo do descontrole. Descontrole é
o que sinto quando você me olha com teus olhos de precipício, teus
olhos de comer fotografia, teus olhos que enxergam quem eu sou quando
sobrepujo o medo de não saber quem eu sou. Nesses momentos, sou menina,
mulher, tímida, expansiva, voraz, contida, sou as duas faces da mesma
moeda, sou todas as moedas do mundo. Sou tudo aquilo e nada disso quando
você me olha com aquele olhar jocoso que me arranca um sorriso
involuntário todas as vezes em que me despe. E nem precisa me despir,
quando nos conhecemos eu estava vestida da cabeça aos pés, bota, calça
comprida, casaco, cachecol, cabelo preso, não queria seduzir, queria me
esconder, queria correr, e corri, e ainda corro, mas teus olhos sempre
me alcançam, uma, duas, quarenta e três, cem, mil vezes você vai me
pegar, e me despir, e eu vou fugir, e fingir, mas vou esperar, e vou
gostar. Vou ser a mulher sensual, a neurótica chata, a menina boba, vou
ser aquelas que sei, muitas que ainda não conheço e todas que você
inventar com o seu olhar. Porque o que ele me diz, e é só o que preciso
saber, é que posso ser qualquer uma - desde que seja tua. E eu sou.
2 comentários:
".....quando você me olha com teus olhos de precipício, teus olhos de comer fotografia..." - Eu que nunca quis ser como Ian Curtis, Jim Morrison ou Kurt Cobain, já me sinto pronto para tal...
olhos de comer fotografia
Lindo texto, Fabi. Como sempre teus escritos vêm arrancados do peito mesmo.
Postar um comentário