Você me pergunta se esqueci das palavras ditas,
dos afagos trocados, dos beijos não dados. Pois se tanto sinto, mas nada
digo, como é que podes me compreender? Meu bem, tu não entendes. É
preciso me encontrar no vazio, me ouvir no silêncio, me ler nas palavras
não ditas. Eu me guardo numa gaveta velha e gasta escondida num armário
no porão. Eu me escondo aonde ninguém procura, por puro desinteresse,
ou temor do que poderão descobrir. Mas para você eu digo, digo e repito.
Dou-lhe um mapa se me pedires. Finja que sou território inóspito e tu,
um aventureiro qualquer. Desvende todos os segredos meus. Sinta meus
temores. Beba de meus sonhos. Guardo dentro de mim cara roçar dos teus
dedos e cada sussurro ao pé d’ouvido. Entrego-te tudo, entrego-me toda.
Não faz essa cara de contrariado, meu bem. Me olha com teus olhos
escuros. Me enxerga com tua alma perspicaz. Mergulhe em mim, meu bem. E
te acalma, meu homem, eu sou tua mulher.
[Me explora sem medo, meu bem. - Gabriela Santarosa]