domingo, 30 de dezembro de 2012

Dou-lhe um mapa se me pedires.

Você me pergunta se esqueci das palavras ditas, dos afagos trocados, dos beijos não dados. Pois se tanto sinto, mas nada digo, como é que podes me compreender? Meu bem, tu não entendes. É preciso me encontrar no vazio, me ouvir no silêncio, me ler nas palavras não ditas. Eu me guardo numa gaveta velha e gasta escondida num armário no porão. Eu me escondo aonde ninguém procura, por puro desinteresse, ou temor do que poderão descobrir. Mas para você eu digo, digo e repito. Dou-lhe um mapa se me pedires. Finja que sou território inóspito e tu, um aventureiro qualquer. Desvende todos os segredos meus. Sinta meus temores. Beba de meus sonhos. Guardo dentro de mim cara roçar dos teus dedos e cada sussurro ao pé d’ouvido. Entrego-te tudo, entrego-me toda. Não faz essa cara de contrariado, meu bem. Me olha com teus olhos escuros. Me enxerga com tua alma perspicaz. Mergulhe em mim, meu bem. E te acalma, meu homem, eu sou tua mulher.  


[Me explora sem medo, meu bem. - Gabriela Santarosa]

Certos desejos certos

Só deseja um amor saudável, quem já viveu uma paixão dilacerante. Porque a paixão corroía tudo por dentro até tirar o fôlego, mas até a dor parecia bonita: aquele único instante de felicidade com o Outro compensava os trezentos outros de infelicidade. Só deseja ter um dia tranquilo, sossegado, quem tem a intensidade à flor da pele, quem acorda suspirando a vida, devorando o dia, se lambuzando de tudo sem conseguir tocar nas coisas com a ponta dos dedos. Só deseja constantemente a companhia das palavras quem escreve. Para estas, o silêncio nunca é mudo, é sempre uma possibilidade. Só consegue vislumbrar a paz quem se investiga, quem tem Consciência do que deseja e pode ou não obter, quem aprendeu a lidar com o imediatismo.
A escrita ensina a esperar, a escutar a letra da música e depois a melodia, juntas e separadas. A escutar a história do Outro sem fazer intervenções antes da conclusão. A compreender que os espertinhos são aqueles que sempre vão terminar levando uma rasteira da própria ingenuidade, porque perderam a inocência. Só consegue acordar para a vida, quem viveu solitário e insone dentro de uma noite interminável e caminhou sonolento pelo resto do dia, quem perdeu o sol. Só consegue apreciar a nudez, quem não é vulgar. Quem percebe com naturalidade que um corpo é como uma árvore, que o seu ambiente é extensão do meio ambiente e que, juntos, ambos são um ambiente inteiro. Só julga acidamente os Outros o tempo todo quem é recalcado. Quem se aprisionou na ideia do que é ridículo e não consegue suportar um ser autêntico. Só consegue ser irônico, quem é inteligente. Só consegue ser doce, quem já foi ferido e curado pela espiritualidade.
Só consegue o que quer os que têm desejos justos. E acreditam.


sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Esse cara sou eu...



Parabéns para você, que tem um sonho. Que não desiste, apesar do que falam. Que não se abala, apesar do medo. Que sente uma fraqueza interna, mas caminha com passos firmes. Que fica tonta, mas não desmaia. Que apesar de cada pedra no caminho, corre. Que reclama dos problemas, mas entende que a vida é feita deles. Que tenta entender o defeito alheio – e procura perceber os seus.

p.s.:Hoje é meu aniversário,e me sinto muito muito feliz.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Sou uma mulher

Sou uma mulher mais ou menos abandonada 
Um pouco me dou o direito
um pouco aconteceu assim 
Ás vezes cansa ser independente  
Hoje me sustente não me deixe me alimente Quero alguém para pentear meus cabelos  

Sou uma mulher mais ou menos maltratada  
Um pouco por descuido  
Um pouco por querer  
Gosto da impressão esfomeada  
Ás vezes cansa ser milionária  
Quero sair das páginas dos jornais  
Hoje me adote me faça um carinho deboche
me ponha no colo e abotoe minha blusa  
Me faça dormir e sonhar com o mocinho  

Sou uma mulher mais ou menos alucinada  
Um pouco foi o acaso  
Um pouco é exagero  
Hoje me expulse se irrite me bata
diga abracadabra E me faça sumir
às vezes cansa ser louca demais  
Mas gosto do medo que sentem  
De se envolver com uma mulher assim  
Hoje quero alguém mais ou menos  
Apaixonado por mim. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

TE OLHO NOS OLHOS


"Te olho nos olhos e você reclama
Que te olho muito profundamente.

Desculpa,
Tudo que vivi foi profundamente...
Eu te ensinei quem sou...
E você foi me tirando...
Os espaços entre os abraços,
Guarda-me apenas uma fresta.
Eu que sempre fui livre,
Não importava o que os outros dissessem.
Até onde posso ir para te resgatar?
Reclama de mim, como se houvesse a possibilidade...
De me inventar de novo.
Desculpa...se te olho profundamente,
Rente à pele...
A ponto de ver seus ancestrais...
Nos seus traços.
A ponto de ver a estrada...
Muito antes dos seus passos.
Eu não vou separar as minhas vitórias
Dos meus fracassos!
Eu não vou renunciar a mim;
Nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser
Vibrante, errante, sujo, livre, quente.
Eu quero estar viva e permanecer
Te olhando profundamente."

Poema de Ana Carolina